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14/02/2021 Thomas McGrath Edição 3933 CFE 2021 - E o medo do diálogo
F/ Pixabay
"Quaresma pede conversão, mudança de mentalidade e de vida. A pandemia nos ensina que o vírus do ódio, da mentira, da manipulação, da vingança do abuso dos outros e da natureza, o vírus do “eu, eu, eu e somente eu”, é um vírus muito pior do que o vírus da COVID."

Thomas McGrath

A Campanha de fraternidade (CF) deste ano, como em todos os anos desde 1962, quando foi iniciado pela visão profética do grande e santo Dom Helder Câmara, segue usando a mesma metodologia do Ver - Julgar - Agir. Primeiro então é o VER, começando a partir do dia a dia da vida, analisando as situações onde a fraternidade está falha ou até ausente. Em seguida vem o JULGAR, quando passamos a analisar a situação a partir da Palavra de Deus, do ensinamento da Igreja e da ética. Em outras palavras, a Revelação de Deus, a nossa história e a ética apontam o que está errada, e ajudam a Comunidade a descobrir como mudar de rumo. O terceiro momento, o AGIR, recorrendo as experiências de outros tempos e Comunidades, fornece pistas gerais para as Comunidades locais decidirem sobre a melhor forma de corrigir, no nível local, os empecilhos para a vivência da fraternidade

A CF Ecumênica (Igreja Católica junto com as demais Igrejas do CONIC - Conselho Nacional de Igrejas Cristas) deste ano de 2021, durante os 40 dias da quaresma vão aplicar essa metodologia para o assunto “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” - “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”.

O Texto Base -TB- (documento oficial da CF) reforça a importância do diálogo frente ao radicalismo, ainda ressalta que pobres, mulheres, (especialmente as negras), indígenas, a população LGBT, e, sobretudo, a própria natureza são as vítimas principais do “sistema de violência” no Brasil, e chama atenção para a importância das políticas de defesa dos direitos humanos e defesa da natureza.

O TB ainda diz, “Uma das falsas notícias que fortalece a violência é a retórica de que direitos humanos servem apenas para defender ‘bandidos’. Esse discurso fragiliza cada vez mais os instrumentos institucionais que contribuem para a justiça”, diz o documento.

A violência e os homicídios são efeitos do discurso de ódio e rejeição que predomina em nossa sociedade, como também do fundamentalismo religioso em todas as Igrejas. Violência contra mulheres, negros/as, líderes camponeses, LGBTs, e mais ainda, nestes últimos anos violência contra a natureza e os biomas – região Amazônica, Pantanal, Cerrado, os rios e os animais.

A reação violenta contra a CFE 2021, a rejeição da igualdade, o ódio estrutural, o fundamentalismo religioso, a não abertura para o diferente, a loucura de manter o status quo, e o medo de abrir mão de privilégios; a defesa doentia da superioridade de um grupo social (rico), de uma religião (Católica), de uma cor (branca) apareceu numa publicação recente de nome “Saiba quem está por trás da Campanha de Fraternidade”. O responsável pela publicação foi uma organização católica sediada no Rio de Janeiro, conhecida por posturas ultraconservadoras. A publicação em questão nem sequer mencionou o Tema ou Lema da CF, se limitando aos ataques contra os responsáveis que produziram o material da CF. Mais assustador ainda foi a rapidez com que a publicação se espalhou dentro da nossa querida mãe –a Igreja Católica. Grupos dentro e fora da nossa Igreja, usaram as redes sociais para retransmitir e divulgar o ódio. Pessoas e grupos que raramente, ou nunca, se interessam em trabalhar os temas da Campanha da Fraternidade, que recusam terminantemente a adotar a sua metodologia Ver – Julgar – Agir –, por considerá-la coisa de comunista, saíram paro o confronto.

Jesus, após viver a sua adolescência e juventude, crescendo e aprendendo na periferia da sociedade, em uma cidade pequena e pobre longe dos “lugares e pessoas importantes” iniciou a sua vida pública proclamando: “Chegou a hora, e o Reino de Deus está perto. Arrependam-se dos seus pecados e creiam no evangelho” (Mc 1,15). Em São Lucas Jesus diz, “O Senhor me deu o seu Espírito. Ele me escolheu para levar boas notícias aos pobres e me enviou para anunciar a liberdade aos presos, dar vista aos cegos, libertar os que estão sendo oprimidos, e anunciar que chegou o tempo em que o Senhor salvará o seu povo” (Lc 4,18-19)

Todos que estão da opinião que a sociedade brasileira deve continuar do jeito que é, ou que a natureza é para produzir riqueza para quem sabe desfrutar dela vão ficar bastante chocados/as com a CFE 2021 – a sua metodologia e o seu conteúdo.  A CFE também choca os cristãos que acreditam que a pobreza é coisa natural ou até vem de Deus, ou no mínimo do próprio pobre.

Na sua Encíclica Fratelli Tutti (FT), no capítulo 6 (que analisa a noção e importância do Dialogo), o Papa Francisco disse: “Aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato: tudo isto se resume no verbo «dialogar». Para nos encontrar e ajudar mutuamente, precisamos de dialogar. (198). Temos que abrir mão do nosso egoísmo, nosso radicalismo, nosso fundamentalismo e dialogar com os que concordam conosco, e os que tem opiniões diferente. Isso não é fácil para nenhum de nós. Por isso a CF tem que trabalhar de dentro para fora.

O número 199 continua o Papa: “Alguns tentam fugir da realidade, refugiando-se em mundos privados, enquanto outros a enfrentam com violência destrutiva, mas «entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações (......). Um país cresce quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: a cultura popular, a cultura universitária, a cultura juvenil, a cultura artística e a cultura tecnológica, a cultura económica e a cultura da família, e a cultura dos meios de comunicação».

Quaresma pede conversão, mudança de mentalidade e de vida. A pandemia nos ensina que o vírus do ódio, da mentira, da manipulação, da vingança do abuso dos outros e da natureza, o vírus do “eu, eu, eu e somente eu”, é um vírus muito pior do que o vírus da COVID. Aliás, a COVID-19 está nos ensinando que devemos viver como filhos do mesmo Pai, irmãos uns dos outros, e irmãos da natureza que nos foi dado para o sustento de todos.

 

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