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17/04/2021 Jardel Neves Lopes Edição 3935 UBERIZAÇÃO: A NOVA MARCA DA PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO Semana da Cidadania 2021
F/ Pixabay
"A Uberização é uma forma de exploração da força de trabalho que não assegura os direitos e nem o respeito à soberania do país."

Jardel Neves Lopes

O Brasil fechou o ano de 2020 com mais de 18 milhões de brasileiros/as que não trabalharam e nem buscaram trabalho por causa da pandemia. 19 milhões foram afastados do seu trabalho durante a pandemia. 30 milhões tiveram redução no rendimento salarial, alguns casos chegaram até 61% do salário. 49,7% da população com idade ativa para trabalhar estava ocupada (84,4 milhões de 169,9 milhões). Temos menos gente trabalhando do que os/as desocupados/as. Aproximadamente 34 milhões de trabalhadores/as informais. Enquanto mais de 68 milhões de pessoas receberam alguma parcela do auxílio emergencial (sendo que 108 milhões de pessoas solicitaram), apenas 37 milhões estavam trabalhando com carteira assinada.

Olhar para a nossa realidade

Esses dados da realidade são apenas uma janela estatística pela qual olhamos o caos que ronda o mundo do trabalho. Podemos olhar por outra janela, a da realidade/comunidade em nossa volta, as ruas, e notar as pessoas com fome, pedindo nos semáforos, nas portas das casas, nos ônibus, nos metrôs, nos estabelecimentos comerciais, outras dormindo nas marquises, nas calçadas, nas ruas e praças. As imagens que saltam aos nossos olhos são expressões dos números que quantificamos acima.

Outra janela a qual sentimos o drama do mundo do trabalho, é quando conversamos com trabalhadores sem direitos, com jornadas exaustivas, com salários reduzidos, e com receio de perder o emprego que ainda lhes resta. Entre a juventude esse quadro se torna mais grave. Há jovens trabalhando 76 horas semanais (sem banco de horas ou remuneração extra), com folgas em um dia da semana e um domingo no mês, sem direitos assegurados, enquanto a CLT permite apenas 44 horas de trabalho semanal (o que passa disso é hora extra ou banco de horas).

Essa realidade não se trata apenas de impactos provocados pela pandemia do covid-19, mas já estavam em curso no mercado de trabalho. O sistema neoliberal capitalista para sustentar o lucro, mais valia, acumulação; necessita da exploração da força de trabalho. Por isso, o que está em curso é uma ofensiva do capital sobre o trabalho. Um dos meios pelo qual está acontece é através da retirada e violação de direitos da classe trabalhadora.

O movimento de terceirização, reforma trabalhista, reforma da previdência ocorreram pelas vias legais para esvaziar o contrato de trabalho. O Estado que tem a função reguladora dessa relação entre capital e trabalho, através da criação, implementação e proteção das leis, está cada vez mais submisso e controlado pelo capital – mercado financeiro. O golpe político em 2016 tinha como função responder a essa demanda do capitalismo. O governo pós-golpe, Temer, chamava a reforma trabalhista de “flexibilização”, para o capital, é claro. O governo atual, Bolsonaro foi mais ousado de forma desmedida, usou a expressão “passar a boiada” na Amazônia; “vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos para salvar grandes companhias. Vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”, disse o Ministro da Economia, Paulo Guedes.

O queé uberização

Esses fatos não estão descolados do movimento global de exploração do trabalho por parte do capital, que denominamos de Uberização. O nome não se restringe apenas ao aplicativo de transporte de pessoas, comida e alimentos, ou a empresa Uber. A Uberização é uma forma de exploração da força de trabalho que não assegura os direitos e nem o respeito à soberania do país. Talvez a realidade mais próxima desse modo de exploração que podemos ver são os motoristas de táxi-uber ou os entregadores de comida. Todavia, esse modo de trabalho vai ampliando por meio do teletrabalho, dos serviços de vendas, da educação à distância – EaD, serviços médicos, nos quais extingue o contrato de trabalho e muda as formas de admissão e demissão, sem garantir piso salarial. As relações de trabalho mudam completamente, e impactam diretamente na organização dos trabalhadores, na formação de uma consciência de classe, na luta por transformação. O salário fica extinto e a remuneração está condicionada à produção.

O movimento que melhor expôs o problema da Uberização do Brasil foram os “entregadores antifascistas”, o que ficou conhecido como “greve dos entregadores”, ou em segundo momento, “breque dos apps”, buscando melhores condições de trabalho para quem atua para as plataformas Ifood, Uber Eats, Rappi, Loggi. A reivindicação se traduz em “comida”. “Trabalhar com fome no estômago e carregar comida nas costas é uma tortura”, é o que diz Paulo Lima, ou “Galo”, um dos protagonistas dessa luta, em São Paulo. Galo resume em poucas palavras para entendermos o que significa a Uberização: "se a revolução industrial suprimiu as profissões, a Uberização tirou os nossos direitos".

Quem mais sofre com a uberização?

A juventude é quem mais sofre impactos da precarização do trabalho. E consequentemente os mais prejudicados com uma sociedade sem acesso a trabalho digno e direitos. A Uberização não apenas canalizou os postos de trabalho e suprimiu os direitos, como conseguiu implantar uma ideia individualista e oposta à categoria de trabalhadores, e denominando-os de “empreendedores”. Conseguem, em grande parte, implantar ideias de meritocracia, esforço individual para alcançar o sucesso, espírito de competição pautado pelo individualismo e não pela cooperação coletiva. Imputam-lhes a culpa da “desqualificação”, enquanto cessam o incentivo aos estudos, à ciência, cortam bolsas de estudo, sucateiam as universidades, fecham cursos, desqualificam o ensino público.

A mão do mercado controla o Estado que gerencia as políticas públicas para responder aos interesses do capital. Apesar da crise econômica e do luto da pandemia, não faltaram governadores e prefeitos desviando recursos do SUS e empresas superfaturando em equipamentos hospitalares. A juventude já é e será mais prejudicada em relação ao trabalho, seja com ausência de postos de trabalho, ausência de direitos e, sobretudo, seguridade social. É fato que há muito movimento da juventude, sobretudo alinhado com a bandeira cultural, nas periferias, etc. Diversas iniciativas criativas de trabalho social, empreendimentos solidários, ou mesmo startups inovadoras, criação de apps para beneficiar a comunidade local ou uma organização, enfim, muitos dons de inteligência e habilidades técnicas colocados a serviço da sociedade do bem viver.

Mas, convenhamos que o tema do trabalho não tem muito espaço de debate entre as juventudes. Pois, o trabalho se tornou um fardo para muitos/as jovens que tentam conciliar estudos e trabalho, ou que desistem dos estudos, de sonhos, diante da necessidade de trabalhar para ajudar a família. Ou mesmo, porquê o que sobram para eles/as são os trabalhos precários e com salários e direitos rebaixados. Muitos não veem perspectiva de inclusão social pela via do emprego. Por isso, muitos são seduzidos facilmente pelo tráfico de drogas. Há também aqueles/as que “nem estudam e nem trabalham”, que soma aproximadamente 11 milhões de jovens. Como dialogar com essa galera? Como gerar processo de acompanhamento e militância? Como despertá-los para construir uma sociedade do bem viver, uma civilização do amor, com justiça e paz? Que alternativas despontam entre a juventude trabalhadora?

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