Formação Leigos
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10/02/2022 José Maria Perez Soba Edição 3945 Sinodalidade, não um slogan, nova forma de ser Igreja
F/ Arquivo O Lutador
"Necessitamos de escolas de oração e de espiritualidade que permitam aos leigos e leigas serem companheiros autênticos de seus irmãos e irmãs em uma espiritualidade cotidiana que sustente verdadeiramente suas vidas a partir da fé."

 José Maria Perez Soba

Para dizer a verdade, preciso compartilhar com vocês uma profunda preocupação que tem a ver com a sinodalidade, a grande questão atual. Não tenho dúvidas de que a centralidade que o Papa Francisco deu a esta verdade (“sínodo é outro nome da Igreja”) será uma das grandes chaves do seu pontificado e, espero, da Igreja do século XXI. É um impulso essencial e absolutamente necessário ao programa do Vaticano II, ainda a ser aplicado, um sopro que areja e agita aspectos estagnados da vida eclesial.

Mas cuidado... tenho um pouco de medo de cairmos na armadilha de nos empolgarmos com o slogan, dando voltas e voltas para que, no final, tudo volte a ser exatamente igual. Realizamos reuniões bem organizadas, trabalhos, sínteses e sínteses de sínteses... e, quando acaba, esperamos o próximo tema que alguém de cima nos dá para trabalhar.

Eu realmente acho que não podemos mais permitir isso. Dadas as estatísticas que falam do interesse nulo da maioria dos jovens espanhóis (e não só espanhóis) pela religião, corremos o risco de acabar presos na insignificância. E não podemos permitir isso.

É por isso que quero compartilhar uma convicção:tendo por verdade que sinodalidade é 'caminhar juntos', implica descentralizar a vida eclesial, promover a maioridade dos leigos. Há mais de cinquenta anos que o dizemos e avançamos, é verdade... mas tão pouco...! Por quê? Da minha experiência de vida leiga, já com meio século, esse amadurecimento passa por duas coisas que existem muito pouco: primeiro, comunidades leigas, estáveis e abertas, onde todos se sentem participantes da vida eclesial, em comunhão com os seus sacerdotes e com a vida religiosa e, em segundo lugar, criar para eles redes de formação e acompanhamento espiritual e teológico que formem seus líderes leigos.

Se não, se a sinodalidade se concretiza em fazer perguntas aos leigos de vez em quando, enquanto a vida normal continua a depender do número cada vez menor de clérigos ou religiosos, continuaremos usando grandes palavras para esconder a verdade sangrenta de que na maioria das vezes eles só podem manter, com esforços heroicos, a estrutura atual. E, enquanto isso, a sociedade clama a nós por planos poderosos para uma evangelização do primeiro anúncio, por uma pastoral não de manutenção, mas em saída (Igreja em saída missionária) para estar onde as pessoas estão, onde estão os jovens (porque eles não vão vir). A realidade é que, apesar de nossos muitos papéis, nosso povo está ficando cada vez mais facilmente, sem muito barulho, na indiferença em relação a qualquer mensagem religiosa. E, no final, como disse Juan Martín Velasco, profético como sempre, 'de tanto pregar no deserto, o deserto entrará em nós'.

Compartilho com vocês uma experiência: certa vez, no final de uma palestra sobre a vocação leiga para um grupo de nossas comunidades adultas, uma senhora idosa, muito majestosa, uma das que mantêm viva a fé, aproximou-se de mim e me confessou: “ é a primeira vez em setenta anos que me dizem que tenho vocação”. Temos um problema. Se minha comunidade tivesse esperado que o padre ou religioso pudesse organizar ou liderar o processo de formação onde isso aconteceu, envolvido em mil outras tarefas, ninguém jamais teria dado a boa notícia a esta senhora ensolarada que, com efeito, Deus havia preparado um presente para ela, mesmo antes de ser concebida: sua vocação.

Certa vez, ouvi um murmúrio desconsolado de que a revitalização da Igreja não poderia acontecer através dos leigos porque 'sem padre, eles não podem'. Bem, estamos perdidos. Claro que não podemos... porque ninguém nos deu espaço e recursos para poder.

No mundo religioso, onde o número de vocações diminui ainda mais, um número crescente de leigos e leigas está assumindo a liderança das comunidades, da formação, da espiritualidade. São leigos que tiveram acesso aos estudos teológicos (pelo menos teologia superior ou ciências religiosas), que viveram experiências de acompanhamento espiritual e que vivem em redes de comunidades que promovem e acompanham suas vidas.

Se for verdade que temos consciência de que somos sinodais, precisamos que os centros de formação teológica criem espaços de formação teológica séria, organizada e compatível em horário com a vida de um leigo trabalhador. Não cursos para repetir quatro coisas, apanhados com alfinetes, mas processos de formação (que não são os mesmos) que lhes permitam ter a sua própria síntese da fé, em comunhão com a Tradição, que lhes permitam ser um eficaz divulgador da proposta cristã em diálogo com o mundo de hoje.

Necessitamos de escolas de oração e de espiritualidade que permitam aos leigos e leigas serem companheiros autênticos de seus irmãos e irmãs em uma espiritualidade cotidiana que sustente verdadeiramente suas vidas a partir da fé. Assim, poderemos difundi-lo como uma oportunidade para as pessoas com quem partilhamos a vida, porque não são poucas as pessoas que têm uma autêntica sede de sentido, uma sede de uma espiritualidade profunda e verdadeira, fartas das milhares de técnicas recicladas de uma pseudopsicologia de autoajuda.

Precisamos formar leigos e leigas em uma liderança horizontal, que acompanhe a vida de pequenas comunidades cristãs, onde a vida de fé está em jogo. Não se trata de replicar o habitual modelo monárquico, mas um modelo diferente, aquele típico do nosso tempo (que até as empresas do mundo secular conseguem, mas nós não), horizontal, fraterno, no qual realmente sentimos que estão juntos na estrada.

Em resumo..., acredito que, se não queremos transformar a mensagem fundamental da sinodalidade em slogan e perder mais uma oportunidade, é preciso apostar em planos, em processos claros, definidos e mensuráveis de liderança leiga. E, eu não quero ser presciente, mas temo que não podemos deixar muitos outros trens passarem.

Fonte: Religion Digital

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