O clamor do salmista torna-se hoje o clamor das brasileiras e dos brasileiros, sobretudo dos pobres e excluídos vítimas da violência policial.
Mal terminamos de chorar a morte de mais de 20 pessoas na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro/ RJ, fomos chocados com a notícia do assassinato de Genivaldo de Jesus Santos por agentes da Polícia Rodoviária Federal, em Umbaúba/ SE. Homem negro de 38 anos, Genivaldo sofria de transtornos mentais, o que não gerou nenhuma compaixão nos agentes policiais que o prenderam no porta-malas de uma viatura que, naquele momento, estava cheio de gás lacrimogênio; nosso irmão morreu asfixiado.
Em primeiro lugar, queremos expressar nossa solidariedade para com as famílias das vítimas da violência policial, sobretudo das recentes vítimas no Rio de Janeiro e de Genivaldo. Nossa oração e companhia espiritual a todas e a todos que choram a perda de seus familiares queridos!
Contudo, em segundo lugar, expressamos nossa indignação diante da escalada da violência policial. A função de um agente de segurança é, primeiramente, proteger a população, sobretudo a população vulnerável, como grande número de agentes do Estado faz. Mas assistimos o uso da força bruta e da truculência por parte de, infelizmente, não poucos contra aquelas e aqueles que deveriam ser especialmente cuidados.
A lógica “bandido bom é bandido morto”, defendida pelo Sr. Presidente da República e seus apoiadores, não é somente perversa, é diabólica. A nenhum ser humano é dado o direito de dispor da vida de outro ser humano por mais errada que seja sua conduta. A vida é um dom sagrado dado por Deus a toda a Criação; é obrigação do ser humano, por ter sido criado à imagem e semelhança do Criador (Gn 1,26), preservar toda e qualquer forma de vida, sobretudo a vida de outros seres humanos.
Quando o descaso com a vida, sobretudo dos pobres e dos excluídos, é um fato - como tristemente vemos em nosso Brasil - peca-se contra Deus, contra a Criação, contra a humanidade. Repudiamos, portanto, os atos de violência perpetrados por agentes do Estado e toda apologia a esse tipo de conduta; condenamos o desprezo das autoridades pela vida dos pobres e dos excluídos.
Na audiência do último dia 25 de maio, o Papa Francisco, solidarizando-se com as famílias que sofreram perdas com o atentado em uma escola no estado americano do Texas, afirmou: “É tempo de pôr fim ao tráfico indiscriminado de armas. Comprometamo-nos todos para que tais tragédias nunca mais possam acontecer.”
Sim! É tempo de reverter a des-cultura do armamento! É tempo de abandonar as armas e a defesa da tortura como caminho para alcançar a paz! A Doutrina Social da Igreja nos ensina que a paz não é resultado das armas; a paz é fruto da justiça.
Que haja mais justiça em nosso Brasil! Que haja justiça para os jovens negros que, em 2019, representaram 61% das mais de 30.000 vítimas das armas de fogo! Que haja justiça para aquelas e aqueles que choram a morte violenta de tantos Genivaldos!
Padres da Caminhada e Padres contra o Fascismo
27 de maio de 2022
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