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29/03/2021 Robson Ribeiro Edição 3934 Semana Santa e pandemia: viver os passos de Jesus
F/ Pixabay
"Que possamos colocar em prática os ensinamentos de Jesus Cristo e, a seu exemplo, nos empenhar verdadeiramente na defesa e preservação da vida de todos, sobretudo, dos mais pobres e sofredores."

 

Vivemos um período quaresmal bem diferente. A realidade da pandemia do novo coronavírus comprometeu nossa participação ativa nas celebrações presenciais. Desde o início de 2020, estamos presenciando celebrações on-line. E, no propósito de rezar e refletir, é desta forma que vamos vivenciar as celebrações centrais da nossa vida cristã: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.

Colocar nossos passos nos passos de Jesus

Nesta Semana Santa, a comunidade cristã é chamada a celebrar e reviver os passos decisivos da vida de Jesus. Padre Adroaldo Palaoro, Jesuíta, nos oferece pistas para seguir Jesus identificando-nos com Ele, em uma constante atitude de caminhada ética e solidária, como verdadeiros cristãos. Ele nos adverte: “Nas celebrações da Semana Santa, muitas vezes corremos o risco de nos deter no secundário e esquecer o essencial, ou seja, identificar-nos com Jesus de Nazaré”.

Assim, o Domingo de Ramos nos convida a fazer a mesma subida a Jerusalém na companhia de Jesus. Certos de sua proposta de transformação da situação de injustiça, violência e morte. Jesus nunca se acomodou à realidade que vivia, ele ia a campo, atrás dos que ninguém procurava e, acima de tudo, dava voz a quem não tinha voz nem vez. Ele buscava alternativas e foi crítico aos problemas sociais, políticos e religiosos de sua época,

Jesus fez seu caminho; colocou-se no lugar do outro e, acima e tudo, ouvia aqueles que o procuravam. Ele sobe para Jerusalém e, segundo os Evangelhos, desconserta a todos, desinstala as lideranças que se julgavam intocáveis e convoca aqueles que desejava ter por perto para continuar o seu projeto de vida e esperança para todos (cf. Jo 10,10).

Padre Adroaldo afirma que Jesus “desencadeou na história da humanidade um ‘modo de viver’ que quebrou toda estrutura petrificada, sobretudo religiosa, constituindo um ‘movimento’ ousado que colocava o ser humano no centro”. Somos convidados a colocar nossos passos nos passos de Jesus.

Defender e proteger a vida de todos

A Semana Santa, que procuramos vivenciar tão intensamente, nos convida a refletir sobre o que nós temos feito da nossa vida? Temos nos empenhado na defesa da vida? Em que esta pandemia tem nos feito refletir e ser solidários no tocante ao zelo e cuidado com a nossa vida e com a vida do próximo? Somente nesta atitude nos colocamos ao lado de Jesus nesta subida para Jerusalém.

É importante ter em mente que Jesus não agradava os poderosos de sua época e combatia os líderes religiosos que impunham pesados fardos sobre o povo empobrecido. Sua meta era o anúncio da Boa Nova do Reino de Deus a todos, mas a começar dos mais sofridos, como nos revela Padre Adroaldo: “Aquele homem que movia multidões por todo o país, por sua pregação e milagres, não é um revolucionário violento. E, no entanto, nem por isso deixou de ser provocativo, transgressor e perigoso. E tudo em nome da vida.” Nesta perspectiva, nossa vida deve estar pautada naquilo que fazemos a favor do outro, de forma solidária, sem violência ou imposição.

Este período de isolamento social nos remete à reflexão sobre a atitude de Jesus que era sempre atento à situação do povo e à sua realidade. Isto nos remete a uma visão mais clara de nossa própria realidade como mais uma vez nos aponta Padre Adroaldo: “A vivência do seguimento de Jesus Cristo implica romper a bolha que asfixia a vida e a derrubar os muros que cercam o coração, atrofiando a própria existência.”

Ir até o fim na defesa da vida

A entrada de Jesus em Jerusalém, aclamado pelo povo com mantos e palmas, revela o compromisso definitivo de Jesus pela causa dos pobres e sofredores. O destino trágico na cruz já estava traçado, mas Ele vai até às últimas consequências por amor ao Pai e ao povo. Somos desafiados a abraçar a mesma causa do Reino abraçada por Jesus: “Como seguidores(as) de Jesus, nossa vocação é a de construir pontes e ser presença reconciliadora em situações de fronteira, colocando nossas energias, nossa formação, nossa vida a serviço para criar, alimentar e sustentar os laços humanos, relações sociais, estruturas sociais, políticas e econômicas que tornem possível o diálogo, a solidariedade e o encontro entre todos os seres humanos e aponte para uma nova cidade, fraterna e justa”, como nos adverte Padre Adroaldo.

É urgente propagar o amor que Jesus anunciou, um amor sem medida e cheio de misericórdia. Neste momento em que escrevemos este artigo, a pandemia já ultrapassou os 311,000 mil mortos (28/03/2021). E, apesar dos esforços de muitos profissionais de saúde que arriscam sua vida, é visível a desarticulação a nível nacional e mesmo o despreparo de muitas lideranças no combate à COVD-19 em nosso país.

O Papa Francisco, em discurso no IIº Encontro Mundial dos movimentos populares, em julho de 2015, asseverou contra as lideranças mundiais: “Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos”.

Diante de tal realidade o que mais nos assusta é o aumento diário e devastador das mortes. Não podemos negligenciar ou fingir não ver a real gravidade desta ameaça à vida humana. O elevado número de mortos e o descaso das autoridades denunciam que a prática evangélica do amor aos irmãos está distante da nossa realidade. Jesus não obrigou a nenhuma ovelha a se “converter”, mas ensinou a diferenciar o bom pastor dos mercenários (cf. Jo 10,11-12). O bom pastor está sempre atento ao seu clamor do seu povo e disposto a se sacrificar para defender a sua vida e vir em seu auxílio.

Que possamos colocar em prática os ensinamentos de Jesus Cristo e, a seu exemplo, nos empenhar verdadeiramente na defesa e preservação da vida de todos, sobretudo, dos mais pobres e sofredores. Assim, a Semana será Santa, pois nos faz caminhar nos passos de Jesus...

 

Robson Ribeiro de Oliveira Castro – Leigo, casado, pai da Emília e do Francisco. Mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em BH. Membro do Conselho Regional de Formação (CRF) – LESTE II do CNLB.

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