Se fôsseis cegos... (Jo 9,1-41) - 19/03/2023
O povo diz: “O pior cego é aquele que não quer ver.” Este refrão sugere que o ato de ver não depende apenas dos elementos físicos (a luz, olhos sadios etc.), mas inclui uma intenção ou ato de vontade. É preciso querer ver. É possível fingir cegueira quando a luz plena nos incomoda e é mais cômodo não encarar a realidade.
Na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho como Luz para o mundo. Aliados à treva, os homens recusam a luz, escreve S. João no prólogo do Evangelho: “O Verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. [...] Ele veio para o que era seu, e os seus não o acolheram.” (Jo 1,9.11.) Estamos diante de uma recusa intencional: a liberdade humana utilizada para permanecer nas trevas do pecado e do egoísmo, rejeita o amor gratuitamente oferecido por Deus.
Como entender esta cegueira? Mera falha humana? Artes mágicas do demônio? Uma aliança irrevogável com o mal? Seja como for, custou um alto preço: por um lado, a morte do Cordeiro inocente; por outro, a perdição de quem optou pelas trevas.
Vinte séculos depois, as trevas ainda rondam a Humanidade, infiltrando-se nos lares e nos parlamentos. Mas Deus não desiste e seu Amor permanece à nossa disposição, como Presença no mundo. É o tema de meu soneto “PRESENÇA”:
Olhos sem luz, a Humanidade vaga
Nas sendas tortuosas do Planeta...
É tempo de homicídios e “vendetta”,
Um mar de ódio os corações esmaga...
Quem pode libertar-nos desta praga
Que se infiltra, mortal, em cada greta
E cobre os corações de lama preta
E na maré de sangue tudo alaga?
Levanto o olhar do agônico cenário
E fito a Cruz erguida no Calvário
Onde o Fogo divino é chama ardente...
E ouço um murmúrio do Crucificado:
- “Estou aqui... Caminho ao vosso lado...
Estou aqui... O Amor está presente!”
Orai sem cessar: “Senhor, em tua luz vemos a luz!” (Sl 36,10)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança