PALAVRA DE VIDA
28/03/2023 - Quando eu for elevado... (Jo 8,21-30)
“Quem és tu? De onde vens? Que dizes de ti mesmo? Pretendes ser Deus? És tu o Messias? Tu és rei?” Eis aqui uma chuva de interrogações arremessadas continuamente sobre o Mestre de Nazaré. Escribas, fariseus, sacerdotes, o rei Herodes, o próprio Pilatos participam da enxurrada de interrogações a respeito desse Nazareno que atrai as multidões, cura os doentes e liberta os possessos, chegando ao cúmulo imperdoável de ressuscitar os mortos. Incômodo e ameaçador, é preciso eliminá-lo. Convém que morra somente um em lugar do povo, dirá o sumo sacerdote (cf. Jo 11,50).
Jesus percebe claramente que pretendem arrancar dele uma resposta que justifique sua condenação. O biblista Louis Boyer comenta: “Jesus anuncia de forma direta o desfecho do conflito: ele terminará pela aparente vitória do poder das trevas, que agem através dos adversários, mantidos como escravos. Mas esse falso triunfo será, na realidade, a derrota deles. A expressão ‘elevar’ – com o duplo sentido possível de crucificar ou exaltar – assinala bem a confusão das trevas quando virem a Luz resplandecer da cruz na qual tinham pretendido apagá-la. Este anúncio da Paixão é o primeiro que Jesus faz em público; nós vamos notar como logo a seguir São João deixa claro que a glória de Cristo e sua Paixão são inseparáveis”.
Aquilo que pareceria a extrema humilhação – a morte na cruz, punição exclusiva para escravos e grandes criminosos – será, de fato, a máxima “elevação” do Salvador. Nas palavras de Paulo aos filipenses: “POR ISSO Deus o exaltou acima de tudo, e lhe deu o Nome que está acima de todo nome” (Fl 2,9). Este é o mistério que permanecerá pulsando no coração do cristianismo.
Claro, Jesus sabia disso desde o começo de sua missão. No diálogo noturno com Nicodemos, ele havia lembrado a serpente de bronze (cf. Nm 21,8-9), sinal de salvação, erguida no madeiro: “Tal como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também será levantado o Filho do Homem, a fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna” (Jo 3,14-15).
Desde então, Jesus “faz da cruz a única via para conhecer o Deus anterior aos séculos. Pela cruz Jesus fará a vontade de Deus até o extremo, e assim o glorificará” (André Scrima). É como se ele dissesse: “Sobre a cruz, vós vereis que Deus me glorifica e eu o glorifico, pois eu faço a vontade de meu Pai”.
A kênosis do Verbo encarnado desce ao mais profundo para atingir o mais elevado.
Orai sem cessar: “Levanto os olhos para vós, que habitais nos céus.” (Sl 122,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.