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08/01/2020 Frt. Dione Afonso, SDN Edição 3919 Plenamente Humanos, Simplesmente Irmãos Vida Religiosa / Entrevista
F/ CRB
"A Revista O Lutador a convidou para falar-nos um pouco desta provocante temática que o V Seminário de Religiosos Irmãos"

 

 

Entre os dias 17 a 20 de outubro, aconteceu em Fortaleza-CE o V Seminário Nacional de Religiosos Irmãos. O encontro trouxe o tema “plenamente humano, simplesmente irmão” e o lema “Maria, peregrina na fé” [LG, 58]. Contamos com a presença de 30 Congregações Religiosas e de mais de 100 Irmãos, cada um partilhando a sua experiência vocacional. A assessoria ficou na responsabilidade de Ir. Annette Havenne, Irmã de Santa Maria que possui uma vasta experiência missionária e pensamentos pertinentes como “a missão é o lugar favorável da formação” e, sempre preocupada em construir relações mais humanas, Ir. Annette sempre faz-nos resgatar a nossa história de vida como semente germinal da experiência comunitária e missionária.

Na oportunidade, a Revista O Lutador a convidou para falar-nos um pouco desta provocante temática que o V Seminário está nos convidando a debruçar e, Ir. Annette levantou os pontos centrais deste encontro.

 

O Lutador: Ser plenamente humano na Vida Religiosa Consagrada. Como este processo deve ser abraçado por nós?

Ir. Annette: Ninguém é plenamente humano, estamos todos em processo de humanização e de maturação! O que é importante é sair das desculpas e lançar mão, pessoalmente e decididamente, do processo formativo e das ferramentas que estão ao nosso dispor, no caso concreto dos religiosos irmãos no contexto da sua VRC, para crescer e amadurecer. Em outras palavras, tomar posse do nosso processo de maturação humana. No seminário, optei por apresentar a visão antropológica da psicologia da “Gestalt” que nos oferece boas pistas para este trabalho: ela apresenta o ser humano como ser de relações, ser situado no tempo e no espaço, ser evolutivo, ser criativo, ser que se depara a sua finitude! Trabalhar o nosso humano é desenvolver e integrar estas dimensões ao longo da vida. E retomar o trabalho, com coragem, sempre que aparecer uma crise ou um desafio!

 

O Lutador: Que esperanças e desafios a VRC enfrenta hoje e que esperança desponta para o seu futuro?

Ir. Annette: Vou começar pelo que o dá esperança! Descrevi isso, no decorrer do seminário, como forças internas e oportunidades exteriores que jogam ao nosso favor. Vocês mesmos, Religiosos, levantaram a lista nos trabalhos em pequenos grupos de convivência. Por isso eu lhes dou a palavra: Forças: Centralidade do Cristo em nossa vida; Vivência do núcleo identitário da VRC; Paixão pelo Reino; Formação inicial e permanente; Carisma fundacional, congregacional e pessoal; Qualidades, habilidades humanas e processo de maturação; Clareza maior da identidade de irmão e capacidade de ressignificar esta vocação; Virtudes; Sentido de pertença a uma família religiosa; mobilidade, itinerância; interculturalidade. E as oportunidades que levantaram: Apoio da Igreja e o novo modelo sinodal apresentado e representado pelo Papa Francisco; CRB, interconregacionalidade, Trabalho em redes; Novas possibilidades para a formação permanente; Cursos acadêmicos e formação profissional; Comunicações e novas tecnologias; Contatos com os jovens, trabalho na formação; Presença no meio do povo e relações de proximidade com os leigos.

Quanto aos desafios, obstáculos, vocês mesmos também fizeram o levantamento: Secularização, poucas vocações; Clericalismo; Ativismo; Tradicionalismo; Autoritarismo; Estruturas rígidas e modo de exercer o poder; Choque das gerações. Resumindo, diria que a situação atual é complexa, mas ela nos provoca a nos reinventarmos e nos oferece novos meios jamais sonhados antes! Os momentos de caos, de desconstrução das nossas certezas são os momentos onde mais sopra o Espírito Santo e a história nos diz que naqueles momentos a VRC se reinventa e redescobre novos carismas, novas formas de seguir a Jesus no discipulado, na vida fraterna e na missão. É preciso fazer a travessia. Travessia de uma vida pautada na Instituição para uma vida pautada no Carisma, no sentido de Vida Religiosa que carrego, que me preenche e que faz a diferença por onde eu passo, sendo, de fato, irmão. Com um toque de humo, no encontro falei de duas devoções: devoção à “santa Dez”, que nos faz rezar a ladainha dos desanimados, desajeitados, desarrumados, desprezados, desrespeitados, desastrados, descongregados, descansados; e, a devoção à “santa Ré” que nos convida à reinventar, recriar, ressignificar, recomeçar, reorientar, reconduzir, reconstruir... Enfim, é uma brincadeira, mas que nos ajuda a ter clareza da opção de vida que fizemos: se somos irmãos, somos irmãos de quem? Irmãos onde? Irmãos, por quê? E irmãos para quem?

 

O Lutador: “Simplesmente irmãos”: o valor da fraternidade está cada vez mais fragilizado socialmente. Como podemos contribuir nessa construção de relações saudáveis e solidárias?

Ir. Annette: A beleza toda é que a vocação do irmão... é ser irmão, ícone, imagem, parábola de Jesus que veio entre nós como nosso irmão, para reinventar as relações, para que possamos amar como Deus ama, cuidar uns dos outros, ser comunidade. Ser irmão de verdade, simplesmente, é ser amostra-grátis de que é possível sim, se amar, ser solidários, partilhar, conviver... para que todos tenham vida mais plena. E isso apesar das nossas diferenças, da interculturalidade e da intergeracionalidade. É sonho, é desejo, é ensaio do bem-viver na Terra sem males! E Jesus nos deixa o dom do Espírito Santo para nos ajudar a não deixar cair este sonho de Deus e nosso! Vejam como eles se amam! Hoje gostamos de chamar isso “evangelização pelo estilo de vida”. Depois devem vir as palavras, os compromissos, os projetos para estender isso em círculos de comunhão sempre mais alargados, sem exclusão!

 

O Lutador: Você nos alertou contra o perigo do clericalismo e nos disse que os Religiosos Irmãos são uma força viva para relações mais respeitosas nas diferenças e nos carismas de cada um. Ser plenamente humano passa também por este caminho de humanizar relações igualitárias?

Ir. Annette: Com certeza, mas diria que não basta... Aqui precisamos de algo mais que tem por nome: viver os valores básicos do Evangelho tais como: simplicidade, amor fraterno, perdão dado do fundo do coração, cuidado em estabelecer com todos/as mas começando em casa... relações nutritivas e não tóxicas. É um trabalho que começa no humano, mas que exige também de nós a espiritualidade dos discípulos de Jesus. Por isso o Seminário fez questão de nos oferecer, além de Jesus, nosso mestre e guia de trilhas, uma figura inspiradora, a de maria Mãe, uma mulher que nos faz descer: de Grande Mãe ela torna-se Pequena Discípula. Isso ajuda também no processo geracional: alguém que antes abriu a porta para o Filho, no fim da festa, aprende a entrar pela porta que o Filho abrir. Maria é simplesmente nossa irmã e peregrina na fé, como cada um de nós! Daí o convite a viver a Vida Consagrada, “Marianamente”! E isso será a mensagem que deixarei para todos vocês: vamos seguir Jesus na Vida Religiosa Consagrada, a passos largos, na alegria e leveza, no jeito simples de Maria!

 

dafonsohp@outlook.com

 

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