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07/05/2021 Denilson Mariano da Silva Edição 3936 Parturientes do novo: acenos do I Congresso de Teologia Pastoral do Brasil
F/ Periodista Digital
" Oxalá estejamos vivendo as “dores de parto” de um algo novo engendrado pelo Espírito no seio da Igreja e da sociedade. E que nós, como membros do povo, com solicitude e presteza evangélicas, de ouvidos atentos, olhos abertos e mãos operosas, sejamos todos parturientes..."

 Findo o 1º Congresso de Teologia Pastoral no Brasil, totalmente online, devido às exigências de isolamento social, buscamos captar percepções reveladas por meio dos participantes e perspectivas que se abrem a partir deste acontecimento.

Para uma breve ideia do alcance imediato deste Congresso vale notar de 1.714 pessoas participaram das conferências, 639 dos seminários, 503 nos painéis, 98 comunicações foram apresentadas e as visualizações das conferências e painéis, no Youtube, alcaçaram cerca de 10 mil visualizações. A articulação do grupo de teologia pastoral da FAJE, juntamente com as várias entidades organizadoras deste Congresso, permitiu a criação de um ambiente virtual de profunda reflexão teológico-pastoral e de fecundas pistas para engajamento em variadas realidades eclesiais e sociais.

Em acenos vindos dos participantes, sobretudo por meio da comunicação via “chat”, captamos algumas percepções: “Este congresso não apenas leva a refletir, leva a nos reencantar com a pastoral, com a catequese”. Este foi um dos reflexos que permearam o “chat” da conferência de encerramento deste congresso. Evidentes sinais de um reencantamento pastoral em que a teologia se mostrou próxima, acessível, iluminadora. Víctor Codina sempre nos recorda que Espírito atua a partir de baixo, a partir dos simples. Desde modo, se o olhar a partir das conferências e painéis nos leva a vislumbrar as questões maiores e os aprofundamentos necessários, a partir de baixo, a partir dos participantes, captamos um reencantamento, uma nova presença do Espírito que continua a conduzir a Igreja. O Congresso propiciou um ambiente que possibilitou saciar um pouco da sede teológico-pastoral dos que dele participaram. E esta “brisa suave”, esse saciar da sede nele experimentada há de ser prolongada em novas reflexões teológicas e em novas ações pastorais pela ação do Espírito, desde que nos abramos às suas moções e ouçamos os Seus clamores.

Outro aceno vem a partir do formato virtual assumido pelo congresso. “As próximas edições dos Congressos de Teologia manterão a participação online?”. Se, por um lado sentimos falta de encontro presencial, de estar com as pessoas, com os participantes, com os conferencistas, com os teólogos, pastoralistas, autoridades religiosas, por outro, o ambiente virtual favoreceu a uma participação mais ampla e gratuita. O formato online quebrou certas dificuldades impostas pelas distâncias geográficas, por questões econômicas, limitações de tempo na agenda e parecem apontar para a criação de outros espaços virtuais que favoreçam a reflexão e a prática teológico-pastorais de maneiras mais acessíveis a todos. Talvez apontem para eventuais modelos híbridos, que sejam capazes de conjugar momentos presenciais com interações e participações virtuais. Diante disso é preciso acolher a pergunta: o que o Espírito quer dizer às entidades e instituições que se encarregam do ensino e da reflexão teológica? Por onde o Espírito quer nos conduzir nestes novos e desafiantes tempos que vivemos?

Seguindo as pistas do pontificado de Francisco, o Congresso firma os passos e se compromete com uma perspectiva de uma Igreja em “saída missionária”, saída na direção das periferias geográficas e existenciais, próxima e solidária aos mais sofridos. Há de seguir na linha de uma reflexão teológico-pastoral que nasça do encontro com o povo, da escuta de seus dramas e sonhos. Uma teologia que tenha “cheiro das ovelhas”, que conheça de perto a realidade do povo e com ele – e não para ele, e muito menos sem ele – busque alternativas pastorais. Uma teologia que tenha, de fato, na pastoral o seu momento primeiro e cujo momento segundo, o da reflexão, seja iluminador para vida e a realidade do povo, que favoreça reconhecer que Deus caminha ao lado de seu povo e faz história com ele.

A sinodalidade, o caminhar juntos, é outra luz que brilhou forte em todo o Congresso. Ela como que pede cadeira permanente no seio da Igreja, em todas as suas instâncias, desde as decisões mais simples e cotidianas, até às mais delicadas e difíceis. Fazer valer a comum dignidade dos batizados, em que os diferentes ministérios, e a variadas funções não sejam mais que formas variadas de um mesmo e comum serviço ao Reino de Deus. Nesta linha vai o compromisso e empenho para a realização da Conferência Eclesial Latino-americana, marcada para o final deste ano no México, bem como o anseio, manifestado em diferentes oportunidades no Congresso, de que a CNBB possa dar passos e colocar em sua pauta a criação de uma Conferência Eclesial da Igreja do Brasil. Uma Conferência com representantes de todo o povo de Deus, no anseio de caminhar juntos, valorizando cada vez mais a “comum dignidade dos filhos e filhas de Deus”.

Reforçar e apoiar as Comunidades Eclesiais de Base, o núcleo primeiro da Igreja. Comunidades em que a Palavra de Deus seja, de fato, a fonte de animação de toda a sua vida e pastoral. Comunidades que se convertam em ninhos acolhedores para a devida iniciação à vida cristã, propiciando a formação de discípulos missionários que voltem a Jesus recriando suas opções no hoje de nossa história. Comunidades vivas que recuperem a sua força de fermento transformador da sociedade. Esse foi outro aceno surgido no Congresso. Uma Igreja povo, organizada a partir de baixo, de olhos abertos, em que a emoção, os apelos do coração, não levem a fechar os olhos, nem caiam no emocionalismo que sacrifica a teologia e a racionalidade. Uma Igreja rede de comunidades, que procure somar forças e cultive a unidade na diversidade, recuperando a importância do diálogo respeitoso, maduro e fecundo.

Esse anseio vem amparado pelo desejo de se fazer uma segunda recepção de Vaticano II e de Medellín, recuperando seu espírito de diálogo com o mundo e de sensibilidade aos dramas que afetam os nossos povos. Nesta direção a presença da Igreja da Amazônia, com as bases firmadas com o último Sínodo dos bispos, levam a busca de novos caminhos pastorais ancorados, também em uma ecologia integral e em uma fraternidade universal e social, como ensejados por Francisco.

Outro aceno vem ainda na busca efetiva de melhorias de condições de vida, como indicado por Tânia Bacelar. A necessidade e o empenho para “distribuir os ativos”: terra e conhecimento. Esse é o caminho para que o Brasil possa avançar para dias melhores de maior dignidade e inclusão de todos. O que está em sintonia pela defesa da tríade de “T” lembrada por Francisco no encontro com os Movimentos Populares: Terra, Teto e Trabalho para todos.

Enfim, se a proposta deste Congresso era “Discernir a pastoral em tempos de crise: realidade, desafios e tarefas”, podemos concluir que esse objetivo foi alcançado. O Congresso favoreceu o encontro com diferentes realidades, a partilha de muitas experiências pastorais, permitiu uma aproximação a variados desafios e propiciou o surgimento de novos anseios, alguns deles aqui sinalizados, e que permanecem como tarefas a serem levadas adiante. Notadamente a crise pandêmica e a dura realidade experimentadas, nestes tempos turbulentos, de inseguranças, de frágil democracia e exagerada violência, revelam-se como momentos fecundos, propícios a novas iniciativas pastorais, a novas reflexões teológicas. Oxalá estejamos vivendo as “dores de parto” de um algo novo engendrado pelo Espírito no seio da Igreja e da sociedade. E que nós, como membros do povo, com solicitude e presteza evangélicas, de ouvidos atentos, olhos abertos e mãos operosas, sejamos todos parturientes...

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