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30/03/2020 Jean-Baptiste Chautard   Edição 3922 Para fecundar as obras
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"Aquele que permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto."

 

Para assegurar a fecundidade das obras desejadas por Deus, o apóstolo deve seguir o conselho de Jesus: “Aquele que permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto”. (Jo 15,5.) Perante a autoridade e a clareza deste texto, limitar-me-ei a confirmá-lo com fatos.

Durante mais de trinta anos, pudemos seguir o andamento de dois orfanatos de meninas, dirigidos por duas congregações diferentes. Ambos atravessaram – por que não dizê-lo? – um período de manifesta decadência. De dezesseis órfãs recolhidas em condições idênticas e que, chegadas à maioridade, saíram desses asilos, cinco caíram, logo a seguir, na pior degradação moral. Das outras onze, só uma se conservou profundamente cristã; todas, entretanto, tinham sido colocadas, por ocasião de sua saída, em casas de famílias honestas.

Um desses orfanatos, há cerca de onze anos, mudou de superiora. Seis meses depois, já se verificava uma enorme transformação. A mesma transformação se verificou no outro orfanato, que apenas mudou de capelão.

Ora, desde então, todas as meninas que saíram dos orfanatos, por terem atingido a maioridade, se conservaram boas cristãs.

A razão destes resultados é simples. Faltava uma direção com profunda vida interior, e isso bastava para paralisar ou atenuar a ação da graça. A antiga superiora e o antigo capelão, ambos sinceramente piedosos, não conseguiam exercer uma ação profunda e duradoura. Piedade sentimental e rotineira, crenças vagas, amor sem entusiasmo, virtudes sem raízes... Piedade que servia para formar boas criaturas, incapazes de fazer mal a alguém, mas sem força de caráter; criaturas à mercê da sensibilidade e da imaginação. Vida cristã sem horizontes, incapaz de formar mulheres fortes, preparadas para a luta: vida cristã que, quando muito, conseguia manter aquelas crianças dentro da “gaiola”, a suspirar pelo dia de poderem escapar.

Muda o espírito dessas duas comunidades. Tudo muda de aspecto. A oração torna-se intensa e fervorosa; os sacramentos fecundos. Melhora a compostura na capela, no trabalho e no recreio. Que paz, que entusiasmo, que amor à virtude! Em algumas almas, um desejo intenso de abraçar a vida religiosa. A que atribuir tal transformação? À profunda vida interior da superiora e do capelão. Em grande número de colégios, externatos, hospitais, paróquias, comunidades e seminários, o observador atento verá idênticos efeitos, produzidos pelas mesmas causas.

Ouçamos São João da Cruz: “Reflitam durante alguns instantes – diz ele – esses homens devorados pelas atividades e que pensam resolver o mundo com pregações e obras, e compreenderão que muito mais úteis seriam à Igreja, e muito mais agradariam ao Senhor, se consagrassem mais tempo à oração e aos exercícios da vida interior. Com uma só obra, e muito menos trabalho, fariam maior bem do que fazem com milhares de outras a que dedicam toda a sua vida. A oração lhes daria a força espiritual de que necessitam. Sem ela, tudo se reduz a muito ruído e pouco, ou nenhum, fruto, pois nada de bom se pode realizar sem a virtude de Deus. Aquelas pessoas que abandonam a vida interior e aspiram a obras retumbantes, que dão fama e agradam a todos, nada entendem do veio da água viva, e da fonte misteriosa que tudo faz frutificar”.

(Do livro “A alma de todo o apostolado”, Porto, 2001)

 

JEAN-BAPTISTE CHAUTARD [1858-1935] nasceu em Briançon, França. Aos 19 anos, enfrentando a oposição do pai, entrou para a Trapa de Aiguebelle. Ordenado padre em 1884, acabaria eleito abade do mosteiro de Chambarand. Já no ano seguinte, o abade-geral da Ordem encarregou-o de restaurar o primitivo mosteiro de São Bernardo, em Cister, então abandonado e em ruínas, e que iria recuperar seu antigo esplendor, irradiando-se para a China, Japão, Austrália, Palestina e Brasil. Durante a Primeira Guerra mundial, Dom Chautard compareceu à frente de combate como enfermeiro, trazendo a cruz vermelha no braço. Entre suas obras, destacam-se A alma de todo o apostolado e O espírito de simplicidade.

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