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30/03/2020 Andrea Tornielli Edição 3922 Os grandes sonhos de Francisco para a Amazônia Exortação Querida Amazônia
F/ Diocese São José dos Campos
"O sonho é um lugar privilegiado para procurar a verdade. "

 

O olhar do Papa sobre a região: caminhos concretos para uma ecologia humana que leve em conta os pobres, para a valorização das culturas e para uma Igreja missionária com rosto amazônico.

 

Sonhar em busca da verdade

"O sonho é um lugar privilegiado para procurar a verdade. E também Deus tantas vezes escolheu falar nos sonhos". Estas palavras pronunciadas por Francisco em dezembro de 2018, numa homilia na Missa em Santa Marta e referindo-se a São José, um homem silencioso e concreto, ajudam-nos a compreender o olhar do Papa sobre a Amazônia através da exortação pós-sinodal. Um texto escrito como uma carta de amor, onde abundam citações de poetas que ajudam o leitor a entrar em contato com a maravilhosa beleza daquela região, mas também com seus dramas diários. Por que o Bispo de Roma quis dar um valor universal a um Sínodo limitado a uma região específica? Por que a Amazônia e seu destino nos preocupam?

Percorrendo as páginas da exortação, surge a resposta. Primeiro porque tudo está interligado: o equilíbrio do nosso planeta depende também do estado de saúde da Amazônia. E como o cuidado das pessoas e o cuidado dos ecossistemas não podem ser separados, não nos devem deixar indiferentes nem a destruição da riqueza humana e cultural dos povos indígenas, nem as devastações e as políticas extrativistas que destroem as florestas.

Mas há outro elemento que torna a Amazônia universal. De certa forma, as dinâmicas que ali se manifestam antecipam desafios já próximos a nós: os efeitos de uma economia globalizada e de um sistema financeiro cada vez mais insustentável na vida dos seres humanos e do meio ambiente; a convivência entre povos e culturas profundamente diversos; as migrações; a necessidade de proteger a criação, que corre o risco de ficar irremediavelmente ferida.

 

A Exortação é uma carta de amor

A "Querida Amazônia", protagonista da carta de amor de Francisco, representa antes de tudo um desafio para a Igreja, chamada a encontrar novos caminhos de evangelização, anunciando o coração da mensagem cristã, aquele kerigma que torna presente o Deus de misericórdia que tanto amou o mundo que sacrificou seu Filho na cruz. O homem, na Amazônia, não é a doença a ser combatida para curar o meio ambiente. Os povos originais da Amazônia devem ser preservados com suas culturas e tradições. Mas eles também têm direito a um testemunho evangélico. Eles não devem ser excluídos da missão, do cuidado pastoral de uma Igreja bem representada pelos rostos queimados pelo sol de tantos missionários idosos, capazes de fazer dias e dias de canoa somente para se encontrarem com pequenos grupos de pessoas e para levar-lhes a carícia de Deus junto com o conforto regenerador dos seus sacramentos.

Com sua exortação, o Papa Francisco testemunha um olhar que vai além das diatribes (discursos agressivos) que acabaram representando o Sínodo quase como um referendo sobre a possibilidade de ordenar sacerdotes homens casados. Uma questão que foi discutida durante muito tempo e que pode ainda ser discutida no futuro, porque "a perfeita e perpétua continência" não é "certamente solicitada pela natureza mesma do sacerdócio", como afirmou o Concílio Ecumênico Vaticano II. Questão sobre a qual o Sucessor de Pedro, depois de ter rezado e meditado, decidiu responder, não prevendo mudanças ou outras possibilidades de exceções em relação às já previstas pela disciplina eclesiástica atual, mas pedindo para recomeçar do essencial. De uma fé vivida e encarnada, de um renovado impulso missionário fruto da graça, isto é, do deixar espaço à ação de Deus, e não das estratégias de marketing ou das técnicas de comunicação dos influenciadores religiosos.

 

Uma resposta corajosa

"Querida Amazônia" convida a uma resposta "específica e corajosa" ao repensar a organização e os ministérios eclesiásticos. Chama à responsabilidade toda a Igreja católica, para que sinta as feridas daqueles povos e as dificuldades das comunidades impossibilitadas de celebrar a Eucaristia dominical, e lhes responda com generosidade, enviando novos missionários, valorizando todos os carismas e concentrando-se mais em novos serviços e ministérios não ordenados, a serem confiados de maneira estável e reconhecida aos leigos e às mulheres. Precisamente ao citar a insubstituível contribuição das mulheres, Francisco recorda que na Amazônia a fé foi transmitida e mantida viva graças à presença das mulheres "fortes e generosas", sem que "nenhum sacerdote passasse por aqueles lugares".

 

A Mãe da Amazônia

E assim o Papa Francisco conclui a Exortação (nº 111): “E, embora seja a única Mãe de todos, manifesta-Se de distintas maneiras na Amazônia. (...) Perante a beleza da Amazônia, que fomos descobrindo cada vez melhor durante a preparação e o desenrolar do Sínodo, penso que o melhor será concluir esta Exortação dirigindo-nos a Ela:

 

Mãe da vida, no vosso seio materno formou-Se Jesus,

que é o Senhor de tudo o que existe.

Ressuscitado, Ele transformou-Vos com a sua luz

e fez-Vos Rainha de toda a criação.

Por isso Vos pedimos que reineis, Maria,

no coração palpitante da Amazônia.

Mostrai-Vos como mãe de todas as criaturas,

na beleza das flores, dos rios,

do grande rio que a atravessa

e de tudo o que vibra nas suas florestas.

Protegei, com o vosso carinho, aquela explosão de beleza.

Pedi a Jesus que derrame todo o seu amor

nos homens e mulheres que moram lá,

para que saibam admirá-la e cuidar dela.

Fazei nascer vosso Filho nos seus corações

para que Ele brilhe na Amazônia,

nos seus povos e nas suas culturas,

com a luz da sua Palavra, com o conforto do seu amor,

com a sua mensagem de fraternidade e justiça.

Que, em cada Eucaristia,

se eleve também tanta maravilha

para a glória do Pai.

Mãe, olhai para os pobres da Amazônia,

porque o seu lar está sendo destruído

por interesses mesquinhos.

Quanta dor e quanta miséria,

quanto abandono e quanto atropelo

nesta terra bendita,

transbordante de vida!

Tocai a sensibilidade dos poderosos

porque, apesar de sentirmos que já é tarde,

Vós nos chamais a salvar o que ainda vive.

Mãe do coração trespassado,

que sofreis nos vossos filhos ultrajados

e na natureza ferida,

reinai Vós na Amazônia juntamente com vosso Filho.

Reinai, de modo que ninguém mais se sinta dono

da obra de Deus.

Em Vós confiamos, Mãe da vida!

Não nos abandoneis nesta hora escura.

Amém!”

 

 

* Editorial Dicastério para a Comunicação,

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