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20/07/2020 Pe. Sebastião Sant’Ana, SDN Edição 3926 Os avós merecem nosso respeito, gratidão e homenagens
F/ FuSuSu - Pixabay
"Se há os avós "cuidadores", há também aqueles que precisam ser cuidados..."

Pe. Sebastião Sant’Ana, SDN*

Mais uma data especial para nossas famílias: celebramos, em 26 de julho, Sant’Ana e São Joaquim, pais de Nossa Senhora e avós de Jesus. Mais do que oportuna a comemoração, nessa data, do Dia dos Avós. São merecedores de todo nosso respeito, gratidão e homenagens tanto os avós que cuidam quanto os que são cuidados.

Em muitas famílias, os avós são para as crianças a única referência de estabilidade, afeto e segurança que lhes possibilita crescer, quase incólumes, em meio a tantos riscos e ameaças. “Os avós podem ser – e o são tantas vezes – a garantia de afeto e ternura que todo mundo necessita dar e receber. Eles dão aos netos a perspectiva do tempo, são memória e riqueza das famílias” – enfatizou Bento XVI, no Encontro Mundial das Famílias, na Espanha (julho/2006). 

Avós que garantem e salvam a vida e o futuro dos netos

Dois terços dos avós gastam mais da metade de seu tempo livre com os netos – revelaram pesquisas realizadas na França. Também no Brasil, muitas crianças vivem mais com os avós do que com os pais; estes levam uma vida agitada e trabalham fora maior parte do dia.  A presença viva dos avós na educação dos netos tem bastante vulto e ganha especial significado sociológico.   

Muitas vezes – quando os pais faltam ou falham no exercício de suas responsabilidades –, são os avós que, com seus valores morais, com seu espírito de dedicação e luta, com suas apertadas economias, conseguem garantir e salvar a vida e o futuro dos netos.

São João Paulo II, na Familiaris consortio (27), pedia que a ação pastoral da Igreja estimulasse todos a descobrir e a valorizar as tarefas dos avós na comunidade civil e eclesial, e, em particular, na família. No seu entender, a vida dos avós ajuda-nos a esclarecer a escala dos valores humanos; mostra a continuidade das gerações e demonstra maravilhosamente a interdependência do povo de Deus.

Brados que nos interpelam

Se há os avós "cuidadores", há também aqueles que precisam ser cuidados.  Na exortação Amoris Laetitia, Papa Francisco nos ajuda a interpretar o salmista – “Não me rejeites no tempo da velhice; não me abandones, quando já não tiver forças” (Sl 71/70, 9) – como um forte “brado do idoso, que teme o esquecimento e o desprezo. Assim como Deus nos convida a ser seus instrumentos para escutar a súplica dos pobres, assim também espera que ouçamos o brado dos idosos” (AL, 191).

Francisco retoma suas catequeses sobre os idosos/avós, mostrando que “isto interpela as famílias e as comunidades, porque a Igreja não pode nem quer conformar-se com uma mentalidade de impaciência, e muito menos de indiferença e desprezo, em relação à velhice”. Segundo o Papa, “devemos despertar o sentido coletivo de gratidão, apreço, hospitalidade, que faça o idoso sentir-se parte viva da sua comunidade” (idem).

Abraço entre jovens e idosos

“Como gostaria duma Igreja que desafia a cultura do descarte com a alegria transbordante dum novo abraço entre jovens e idosos!” – eis um sonho de Francisco que nos interpela.

“Os idosos ajudam – explica o Papa – a perceber a continuidade das gerações, com o carisma de lançar uma ponte entre elas. Muitas vezes são os avós que asseguram a transmissão dos grandes valores aos seus netos, e muitas pessoas podem constatar que devem a sua iniciação na vida cristã precisamente aos avós.  As suas palavras, as suas carícias ou a simples presença ajudam as crianças a reconhecer que a história não começa com elas, que são herdeiras dum longo caminho e que é necessário respeitar o fundamento que as precede. Quem quebra os laços com a história terá dificuldade em tecer relações estáveis e reconhecer que não é o dono da realidade. Com efeito, a atenção aos idosos distingue uma civilização. Numa civilização, presta-se atenção ao idoso? Há lugar para o idoso? Esta civilização irá em frente, se souber respeitar a sabedoria dos idosos”. (AL 192)

Sabedoria mais que conhecimento

Com muita sensibilidade, o Papa diz que “as histórias dos idosos fazem muito bem às crianças e aos jovens, porque os ligam à história vivida tanto pela família como pela vizinhança e o país”. Francisco entende que “uma família que não respeita nem cuida dos seus avós, que são a sua memória viva, é uma família desintegrada; mas uma família que recorda é uma família com futuro. Por isso, numa civilização em que não há espaço para os idosos ou onde eles são descartados porque criam problemas, tal sociedade traz em si o vírus da morte, porque se separa das próprias raízes”. (AL 193).

Estas reflexões do Papa Francisco nos ligam ao testemunho do escritor e romancista português, José Saramago, quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura (1998). Ao agradecer a significativa homenagem, surpreendeu a todos afirmando que o homem mais sábio que conheceu em toda a sua vida não sabia ler nem escrever: “meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras; chamava-se Jerónimo Melrinho e era analfabeto”.

Obrigado e parabéns, vovó e vovô!

Parabéns, vovó e vovô pelo seu significativo dia! “A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja” (Papa Francisco). A alegria do amor, dos verdadeiros valores familiares que vocês nos ensinaram é júbilo para todos nós.  

É evidente que, com as restrições impostas pela pandemia do Covid-19, nossos festejos e homenagens aos avós têm que ser diferentes dos anos anteriores. Porém, mais criativos e carregados de afeto.

Com nossos parabéns, aceitem, vovó e vovô, nosso reconhecimento e carinhoso abraço virtual por todo o bem que fizeram, fazem e farão em favor dos netos, das famílias, da comunidade, da Igreja e de uma sociedade mais humana e solidária. Contem com a preciosa intercessão de Sant’Ana e São Joaquim! Deus os proteja, os abençoe e os ilumine sempre!

* Paróquia Bom Pastor - Manhuaçu, MG

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