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15/11/2019 Pe. Nelito Dornelas Edição Missão: resgate da casa comum do ser humano
F/ Pixabay
"Tudo isto será mais fácil a partir de um olhar contemplativo que vem da fé: o crente contempla o mundo, não como alguém que está fora dele, mas dentro..."

 

O resgate ao ser humano convida a outro resgate, o resgate da casa da humanidade, o planeta terra. Há alguns anos ambientalistas, povos originários, povos tradicionais e cientistas vinham alertando para o avançado processo de degradação do planeta terra. Para alguns, isto não passava de modismo, ou atividade de quem não tinha o que fazer. Quando começaram a aparecer as tragédias motivadas pelo clima alterado viu-se que as denúncias eram sérias e que de fato o planeta terra estava comprometido e este comprometimento era irreversível.

Na verdade, os cientistas, finalmente dando razão aos povos indígenas ancestrais e aos estudiosos e ativistas ecologistas, chegaram a uma conclusão em comum: se nada for feito, todas as formas de vida vão sofrer nos próximos cem anos: muitas delas não terão como resistir, e desaparecerão. (CNBB, 2008, p. 9)

Diante desta situação, passamos a entender que temos uma tarefa urgente para rever a forma de relação do ser humano com o planeta terra, preparando-nos para o enfrentamento com as consequências das mudanças climáticas, promovendo a reeducação do ser humano para assumir outra forma de relacionamento com a vida.

A lógica moderna racionalista, centrada na voracidade humana pela superação de todos os obstáculos, conquistando todos os espaços e desvendando todos os segredos do universo e transformando a criação em natureza, portanto, distinta dos seres humanos e transformada em objeto a ser explorada, promoveu a maior destruição das fontes de vida do nosso planeta.

O ser humano foi transformado de homo sapiens, ser inteligente, em ser produtivo e consumidor, capaz de abstrair-se da criação para dominar a natureza. Esta visão moderna parte do princípio de que o planeta terra é inesgotável e seus bens foram transformados em recursos financeiros. Estamos revivendo o mito grego do Toque de Midas. O rei Midas era apaixonado pelo ouro. Ele pediu permissão especial aos deuses para que ao seu toque tudo se transformasse em ouro. O que lhe fora concedido. Sua alegria durou até o momento em que Midas tocou a comida e ela virou ouro. Ao tocar sua amada ela se transformou numa estátua de ouro.

Este é o grande desafio da atualidade: tudo virou mercadoria, até mesmo a vida humana. A grande questão é que a terra é um organismo vivo e como tal está ferida, está se esgotando porque nós a vemos apenas como um objeto a ser explorado.

A missão evangelizadora alia o resgate do ser humano ao resgate da casa do ser humano, o ambiente, a criação toda e o planeta terra. A missão é desafiada a assumir a situação de abandono na qual se encontra o ser humano entregue à sua própria sorte e o regate da casa comum, o planeta terra e toda comunidade de vida que compõe conosco a sinfonia da vida que está totalmente desafinada.

O abandono do ser humano sempre foi assumido pela missão e muitas respostas positivas já foram construídas para a sua reintegração original. A destruição da terra e suas infinidades de formas de vida ameaçadas ainda é um desafio novo pertinente que ainda não ocupa o centro de nossa missão evangelizadora.

Nossa maior missão consiste em fornecer à humanidade os fundamentos humanos e espirituais que promovam atitudes concretas de apoio e defesa deste patrimônio da humanidade, o nosso planeta. É um desafio que impele a todo ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, ao qual lhe fora confiada a missão do cuidado com a criação, fazendo-se jardineiro do Éden.

E o Papa Francisco nos adverte:

“A sobriedade, vivida livre e conscientemente, é libertadora, bem como a felicidade exige saber limitar algumas necessidades que nos entorpecem, permanecendo assim disponíveis para as muitas possibilidades que a vida oferece; desta forma torna-se possível voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos” (LS 223-229).

“Tudo isto será mais fácil a partir de um olhar contemplativo que vem da fé: o crente contempla o mundo, não como alguém que está fora dele, mas dentro, reconhecendo os laços com que o Pai nos uniu a todos os seres. Além disso, a conversão ecológica faz crescer as peculiares capacidades que Deus deu a cada crente, leva-o a desenvolver a sua criatividade e entusiasmo” (LS 220).

Após a Laudato sí, do papa Francisco, a missão evangelizadora deverá incluir ao nosso exame de consciência além do nosso relacionamento com Deus, com os outros, consigo mesmo, também com todas as criaturas e todas as formas de vida, para tomarmos uma atitude reconciliada e reconciliadora com o conjunto da criação, a grande obra divina.

 Pe. Nelito Dornelas

 

 

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