Maio em Minduri tem manhãs de neblina. A cerração esconde o sol até as dez horas. Ou mais. Bom é ficar enrolado na colcha de retalhos, fingindo que não amanheceu. O galo já cantou, o bem-te-vi já gritou, mas a criança finge que ainda é ontem...
Até que a porta do quarto se abre a e voz de Dona Esther anuncia:
- Levanta que tem sol!
Aberta a janela, a luz invade o espaço. É dar um pulo, calçar o chinelo de cordas, esfregar os olhos na água fria e beber o café com leite na caneca de ágate, onde se mergulha um bico de pão.
Lá fora, o sol convida a recomeçar. Aulas, só à tarde. Tenho tempo para as bolinhas de gude, verificar a arapuca no fundo do quintal, um joguinho de “finco” na terra seca ou, na falta de parceiros, reler umas páginas de “Histórias que mamãe contava”, de João Kopke.
* * *
São tempos nublados. O nevoeiro da pandemia está cobrindo o sol. Dá vontade de permanecer deitado. Mas o sol existe. Ainda que os novelos de névoa o ocultem por um tempo, ele vai aquecendo as camadas da atmosfera e logo veremos seus raios no fundo azul-turquesa.
Logo a porta se abrirá e uma voz anunciará a boa nova: - “Levanta que tem sol!” É a voz da esperança, que trabalhou até de madrugada em sua máquina de costura, levantou cedo e coou o café.
É que a esperança não fica só esperando... A verdadeira esperança é ativa, atuante, e até economiza o sono para preparar o amanhecer. A esperança não tem tempo para resmungar, reclamar, injetar tinta preta nas redes sociais. A esperança “sabe” da manhã, encara a noite como um Advento: a certeza do Natal. Deve ser por isso que ela está sempre sorrindo, saboreando antecipadamente o dia que virá...
* * *
O cético franze a testa. O amargo faz beicinho. O homem sério xinga o governo. Eles pensam que as bolinhas de gude não hão de voltar. Eles demitiram a infância sem aviso prévio. Seu estojo de lápis de cor não tem mais o amarelo e o azul. Suas roseiras só dão espinhos...
Mas nós vamos resistir. Vamos afofar a terra para a próxima sementeira. Vamos apostar na esperança. Afinal, como diz o Apóstolo, “a esperança não decepciona”.
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