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15/03/2020 Denilson Mariano da Silva Edição 3922 Lama e destruição, sonhos e esperanças
F/ Movimento dos atingidos por barragens
"Uma multidão de pessoas, alimentadas pela fé em Deus e pelo espírito de solidariedade humana vem somando forças para minimizar a dor. Oferecem apoio humano, financeiro, espiritual, jurídico, pastoral... "

 

 

Depois de um ano do rompimento da barragem, da VALE no Córrego do Feijão, em Brumadinho-MG, o cenário de lama e destruição ainda toma conta da paisagem. Depredação da natureza, rios poluídos, mortes de peixes e animais, vidas humanas desaparecidas e outras tantas mortas pela avalanche de lama e detritos da mineração. A dor toma conta das famílias que perderam filhos, maridos, esposas, parentes, amigos e lutam para recomeçar a vida em situações adversas. Já não se pode usar a água do rio, já não têm onde plantar, já perderam o emprego, a oportunidade de bem-viver e se esforçam para não perder esperança.

A lama deixou um rasto de destruição, prova isso que a fundação SOS Mata Atlântica refez em janeiro deste ano uma nova averiguação e concluiu que água do rio Paraopeba está ainda pior, com níveis de contaminação que não permitem a presença de vida aquática e imprópria para uso. Permanece o cenário de lama e destruição: 259 mortos e 10 desaparecidos...

Mas em meio a tanta dor, uma multidão de pessoas, alimentadas pela fé em Deus e pelo espírito de solidariedade humana vem somando forças para minimizar a dor. Pessoas que oferecem apoio humano, financeiro, espiritual, jurídico, pastoral... Pessoas que dão as mãos umas às outras, para se sustentarem mutuamente, para encontrar forças para vencer a dor e a tristeza diante de tanta destruição. Pessoas que incentivam a sonhar de novo e buscam reacender as esperanças.

O cenário ainda se torna mais hostil com os estragos trazidos pelas chuvas. É verdade que o rio, “só queria passar”, mas com tantos empecilhos à frente entrou nas casas, destruiu moradia, levou moveis, pertences e tirou vidas. Barrancos caíram, soterraram pessoas que não eram simples números, eram vidas, desejosas de seguir adiante. Pessoas que queriam, como o rio, seguir adiante, vivendo, sorrindo... Mas em meio às enchentes, a solidariedade humana também cresceu, estendeu-se, abraçou pessoas, abrandou o choro, acolheu, fez-se mais próxima, redescobrindo uma verdade básica da fé: somos todos irmãos...

Porém, pior que as catástrofes naturais com enchentes e desmoronamentos (aqui não se inclui a queda da Barragem da VALE em Brumadinho), são os crimes contra a vida e a humanidade: a negação aos direitos dos mais empobrecidos e pobres, como o eventual avanço da mineração até nas terras indígenas. O lucro está colocado acima das pessoas, acima da vida humana e da vida no planeta... Estamos destruindo a nossa Casa Comum, como nos alerta o Papa Francisco na Laudato Si.

Vem em boa hora esta nova Exortação Apostólica: “Querida Amazônia” fruto do último sínodo dos bispos. Mais uma vez, Francisco aposta na Sinodalidade, no fortalecimento das Igrejas Particulares e que as decisões maiores aconteçam na linha de Medellín e Puebla, em que a Igreja, com rosto latino-americano, abra caminhos de respostas aos seus grandes desafios. E que por meio destas respostas, fecunde e provoque a Igreja no seu todo.Francisco aposta  mais em processos que levam a transformação...

É preciso somar forças em defesa da vida humana e do planeta. É preciso um olhar contemplativo sobre a Amazônia, um olhar capaz de vê-la como “Querida”... Assim, seremos mais cuidadores da vida. E, em meio à lama e destruição poderemos de novo, acalentar novos sonhos e semear esperanças.

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