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30/08/2019 REPAM Edição Igreja da Amazônia se reúne em Belem e reafirma o compromisso com a Criação
"Vamos com coragem e paixão. Quando se quer chegar rápido, se anda sozinho. Quando se quer chegar longe, vamos juntos. Que o pós-Sínodo seja Amazônico e grandioso, não pelo tamanho, mas pela intensidade e profundidade, afirmou o Cardeal Dom Mário Antônio, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil"

Com uma carta aberta para a toda sociedade em que convocam a todos para a sintonia com o Sínodo e o cuidado com a Amazônia, termina o encontro dos bispos e lideranças da Igreja da Amazônia. Realizado no Centro de Espiritualidade Monte Tabor, da Arquidiocese de Belém, o evento teve como objetivo o estudo e preparação dos padres sinodais para a grande assembleia em outubro, no Vaticano. Cerca de 120 pessoas, entre padres, bispos, leigas e leigos e religiosos estiveram no encontro que começou na última quarta-feira (28).

Coordenado pelo Cardeal Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal Especial para Amazônia/CEA da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil/CNBB, da Rede Eclesial e relator nomeado para o Sínodo, juntamente com Dom Davi Martinez de Aguirre Guiné, bispo de Puerto Maldonado, no Peru, e Padre Michael Czerny, subsecretário da Seção Migrantes e Refugiados para o Serviço de Desenvolvimento Integral Humano do Vaticano, nomeados secretários do Sínodo para a Amazônia, as atividades ao longo dos três dias oportunizaram aos participantes o estudo do Documento de Trabalho do Sínodo por meio de palestras, orações e grupos de trabalho.

Ao final da atividade, Dom Alberto Taveira, arcebispo metropolitano de Belém, agradeceu a todos a participação na atividade. O Cardeal Cláudio Hummes lembrou os bispos do compromisso e responsabilidade que têm na assembleia em Roma, em outubro. “Vamos com coragem e paixão”, afirmou o Cardeal. Dom Mário Antônio, vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lembrou os participantes sobre a essência do Sínodo: “Quando se quer chegar rápido, se anda sozinho. Quando se quer chegar longe, vamos juntos”, destacou Dom Mário. E completou: “Que o pós-Sínodo seja Amazônico e grandioso, não pelo tamanho, mas pela intensidade e profundidade”, finalizou.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o encontro

Para Dom Zenildo Pereira, da Prelazia de Borba/AM, a atividade possibilitou o encontro e o reencontro dos pastores e lideranças de toda a Amazônia brasileira, numa celebração e comunhão de tudo o que foi realizado na caminhada em preparação ao Sínodo. “Os sonhos, as angústias e as urgências pastorais para, à luz do Espírito Santo, encontrar caminhos novos para isso”, disse Dom Zenildo avaliando positivamente a atividade de Belém.

A atividade de estudos foi a última oportunidade de encontro da Igreja da Amazônia antes do Sínodo, em outubro. Para Dom Antônio de Assis, bispo auxiliar de Belém, foi uma atividade muito fraterna, profunda, num clima de grande liberdade, de sinceridade, de autenticidades na apresentação dos diversos temas que envolve a vida pastoral da Igreja. “Nós não tomamos decisões, foi uma experiência de discernimento, de apresentação de diversos horizontes e preocupações e eu creio que nós ganhamos com esse processo de crescimento, de estudo, de envolvimento e de maior convicção sobre a necessidade desse evento tão importante”, destacou Dom Antônio sobre a preparação para o Sínodo.

Dom Sebastião Lima Duarte, bispo de Caxias/MA lembrou da particularidade do encontro de Belém, que antecipa a ida dos padres sinodais para Roma. “Foi um momento bom para nos debruçarmos sobre o Documento de Trabalho, diferente do que estávamos fazendo nas dioceses e prelazias, com uma leitura coletiva e a possibilidade de trocas de ideias e de afunilar as propostas para levarmos ao Sínodo”, pontuou o bispo de Caxias/MA.

Lideranças leigas, religiosas e padres também participaram do encontro. Margarida Chaves, das pastorais sociais da diocese de Imperatriz/MA esteve na atividade e destacou a importância da voz do povo junto aos bispos nesse último momento de preparação, antes do Sínodo. “As nossas propostas, de fato, vão para o Sínodo e esperamos que os bispos discutam sobre elas. O Sínodo vai trazer, sim, novos horizontes para o nosso trabalho pastoral, principalmente considerando a questão da ecologia integral, da participação das mulheres e o reconhecimento dos povos indígenas enquanto atores da própria caminhada pastoral”, enfatizou Margarida.

O pastor luterano Inácio Lemke, presidente do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil/CONIC, participou de todo o encontro. Para ele, pensar a Amazônia e o processo de evangelização no território é algo precisa ser pensado coletivamente. “O CONIC espera que se firme mais ainda esse compromisso ecumênico na região”, destacou o pastor sobre a expectativa em relação aos resultados do Sínodo para a Amazônia.

 

Compromisso reafirmado

Na carta elaborada pelos participantes do encontro, bispos e lideranças reafirmaram o compromisso com a defesa e cuidado com a vida dos povos e de toda a floresta. “Defendemos vigorosamente a Amazônia, que abrange quase 60% do nosso Brasil. A soberania brasileira sobre essa parte da Amazônia é para nós inquestionável”, afirmam na carta.

No texto, há também uma manifestação da preocupação da Igreja para com a degradação do meio ambiente. “Ficamos angustiados e denunciamos o envenenamento de rios e lagos, a poluição do ar pela fumaça que causa perigosa intoxicação, especialmente das crianças, a pesca predatória, a invasão de terras indígenas por mineradoras, garimpos e madeireiras, o comércio ilegal de produtos da biodiversidade”, denunciam na carta.

Confira o texto na íntegra:

 

Carta do Encontro de Estudo do Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia

 

“Cristo aponta para a Amazônia”

São Paulo VI

 

Reunidos em Belém do Pará, com o objetivo de estudar o Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia, nós, bispos, padres, religiosas e religiosos, leigas e leigos das Igrejas amazônicas, como também irmãs e irmãos que compartilham a caminhada ecumênica, queremos manifestar nossas preocupações com a “Casa Comum” e uma missão evangelizadora encarnada, samaritana e ecológica.

Desde 1952, os bispos da Amazônia se reúnem periodicamente para se posicionar sobre a missão da Igreja na realidade peculiar da Amazônia. “Cristo aponta para a Amazônia” é a expressão profética e programática do Papa São Paulo VI que em 1972 repercutiu no Encontro de Santarém. A nossa Igreja assumiu, então, o compromisso de se “encarnar, na simplicidade”, na realidade dos povos e de empenhar-se para que por meio da ação evangelizadora se tornasse cada vez mais nítido o rosto de uma Igreja amazônica, comprometida com a realidade dos povos e da terra. No encontro de 1990, em Belém-Icoaraci, os bispos da Amazônia foram os primeiros a advertir o mundo para um iminente desastre ecológico com “consequências catastróficas para todo o ecossistema (que) ultrapassam, sem dúvida, as fronteiras do Brasil e do Continente” (Documento “Em defesa da Vida na Amazônia”).

Novamente reunidos em Icoaraci/PA em 2016, os bispos da Amazônia dirigiram uma carta ao Papa Francisco pedindo um Sínodo para a Amazônia. Acolhendo o desejo da Igreja nos nove países amazônicos, o Papa convocou em 15 de outubro de 2017 a “Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia”, com o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

A Igreja Católica desde o século XVII está presente na Amazônia preocupando-se com a evangelização e a promoção humana ao mesmo tempo. Quantas escolas, hospitais, oficinas, obras sociais se construíram e foram mantidas durante séculos em todos os rincões da Amazônia. Vilas e cidades se edificaram a partir das “missões” da nossa Igreja. Quanto sangue, suor e lágrimas foram derramados na defesa dos direitos humanos e da dignidade, especialmente dos mais pobres e excluídos da sociedade, dos povos originários e do meio ambiente tão ameaçados. Lamentamos imensamente que hoje, em vez de serem apoiadas e incentivadas, nossas lideranças são criminalizadas como inimigos da Pátria.

Junto com o Papa Francisco, defendemos de modo intransigente a Amazônia e exigimos medidas urgentes dos Governos frente à agressão violenta e irracional à natureza, à destruição inescrupulosa da floresta que mata a flora e a fauna milenares com incêndios criminosamente provocados.

Ficamos angustiados e denunciamos o envenenamento de rios e lagos, a poluição do ar pela fumaça que causa perigosa intoxicação, especialmente das crianças, a pesca predatória, a invasão de terras indígenas por mineradoras, garimpos e madeireiras, o comércio ilegal de produtos da biodiversidade.

A violência, que ultimamente cresceu de maneira assustadora, nos causa horrores e exige também o engajamento da nossa Igreja para que a paz e o respeito, a fraternidade e o amor prevaleçam.

Defendemos vigorosamente a Amazônia, que abrange quase 60% do nosso Brasil. A soberania brasileira sobre essa parte da Amazônia é para nós inquestionável. Entendemos, no entanto, e apoiamos a preocupação do mundo inteiro a respeito deste macro-bioma que desempenha uma importantíssima função reguladora do clima planetário. Todas as nações são chamadas a colaborar com os países amazônicos e com as organizações locais que se empenham na preservação da Amazônia, porque desta macrorregião depende a sobrevivência dos povos e do ecossistema em outras partes do Brasil e do continente.

O Sínodo, convocado pelo Papa Francisco, chega num momento crucial de nossa história. Queremos identificar novos caminhos para a evangelização dos povos que habitam a Amazônia. Ao mesmo tempo, a Igreja se compromete com a defesa desse chão sagrado que Deus criou em sua generosidade e que devemos zelar e cultivar para as presentes e futuras gerações.

Cabe um agradecimento especial à Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM por todo o esforço dedicado no importante processo de ESCUTA das comunidades e no envolvimento dos diversos segmentos do Povo de Deus, especialmente mulheres e com forte participação das juventudes e dos povos originários.

Pedimos que rezem por nós, irmãs e irmãos, para que a caminhada sinodal reflita “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e das mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem” (GS 1).

Que Maria de Nazaré, expressão da face materna de Deus no meio de nosso povo, por sua intercessão, acompanhe os passos da Igreja de seu Filho nas terras e águas amazônicas para que ela seja sinal e presença do Reino de Deus. Que ajude, com sua missão evangelizadora e humanizadora, a dignificar cada vez mais a vida em nossa região.

 

Participantes do Encontro de Estudo do Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia

 

Fonte: repam.org.br

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