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22/02/2023 Luis Miguel Modino - Regional Norte 1 Edição 3956 Festa, alegria, gratidão nos 100 anos da presença das Salesianas na Diocese de São Gabriel da Cachoeira
F/ L M Modino
"É uma Congregação que adquiriu um rosto amazônico e cada vez mais um rosto indígena”, destaca Dom Edson. Um carisma salesiano que “foi se amazonizando, se inculturando aqui na nossa região [...] continuem aqui no meio de nós por muitos e muitos anos, porque elas continuam fazendo um bem imenso, uma evangelização a través da educação, da presença nas famílias, no meio da comunidade."

Um momento de festa, de alegria, de gratidão, tem sido vivido neste domingo 19 de fevereiro de 2023 na Igreja de São Gabriel da Cachoeira, segundo Dom Edson Damian. A celebração dos 100 anos da chegada das quatro primeiras Filhas de Maria Auxiliadora, procedentes de São Paulo, que de Manaus para São Gabriel, elas levaram 39 dias, lembrou o Bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira. Ele insistiu em que “se hoje ainda é difícil esse trajeto a través do Rio Negro, imaginemos naquela época”.

“Em pouco tempo, elas já estavam presentes nas principais comunidades indígenas aqui da nossa região”, disse Dom Edson. Um acontecimento que a pesar da chuva reuniu uma multidão no Ginásio do Colégio São Gabriel. No início da celebração teve uma encenação muito criativa da chegada das primeiras quatro irmãs, narrando a través das crónicas daquele tempo como foi a chegada. Um momento que despertou saudade e gratidão nas pessoas mais idosas, alunas naqueles primeiros tempos.

A celebração da Eucaristia, presidida por Dom Edson Damian, foi concelebrada por 12 padres, dentre eles alguns indígenas da região, que foram alunos das Salesianas. Também estava presente a Ir. Paula, visitadora chegada de Roma que nos próximos messes vai se fazer presente em todas as comunidades da Inspetoria Nossa Senhora da Amazônia, coordenada pela Ir. Carmelita Conceição, auditora no Sínodo para a Amazônia, onde defendeu a importância da educação para os povos originários da região, e atual vice-presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), um dato importante pelo fato dela ter nascido na região amazônica e conhecer sua Igreja.

Na Eucaristia, Dom Edson destacou como algo muito importante da presença da família salesiana no Rio Negro, presente desde 1915, o ramo masculino, e desde 1923, depois de perceber a importância de sua presença, as Filhas de Maria Auxiliadora. Citando as palavras do antropólogo indígena Gersen Baniwa, Dom Edson diz que desde a chegada da Família Salesiana, as lideranças indígenas perceberam que eram diferentes dos outros brancos, que chegavam na região para escravizá-los e explorá-los. Enquanto isso os salesianos e as salesianas chegaram para morar, para permanecer com eles. Junto com isso, eles chegaram para transmitir os seus conhecimentos, o que fez com que fossem acolhidos pelos indígenas, que decidiram aprender o que tinham ido partilhar com eles e assim lutar pelos seus direitos.

Numa região onde até 1990 o Estado brasileiro estava totalmente ausente, Dom Edson Damian destacou que “quem cuidou da educação e da saúde foram os salesianos e as Filhas de Maria Auxiliadora”, inclusive ajudando a formar jovens indígenas nas faculdades de Manaus, que sempre mostraram gratidão por tudo o que receberam dos padres Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora. Juntos fizeram prevalecer o catolicismo nas comunidades indígenas da Diocese de São Gabriel da Cachoeira.

O Bispo ressalta que a grande maioria das Filhas de Maria Auxiliadora que trabalham na Amazônia brasileira são originárias da região, sendo muitas as irmãs indígenas. “É uma Congregação que adquiriu um rosto amazônico e cada vez mais um rosto indígena”, destaca Dom Edson. Um carisma salesiano que “foi se amazonizando, se inculturando aqui na nossa região”, um elemento importante em palavras do Bispo, que junto com a Diocese de São Gabriel da Cachoeira agradeceu os 100 anos de trabalho heroico das irmãs salesianas, pedindo que elas “continuem aqui no meio de nós por muitos e muitos anos, porque elas continuam fazendo um bem imenso, uma evangelização a través da educação, da presença nas famílias, no meio da comunidade”.

Dom Edson Damian recordou uma fato histórico, que ele considera muito elucidativo, que foi a decisão do Governo Brasileiro de estabelecer na década de 80 as colónias agrícolas no Alto Rio Negro, que pretendiam introduzir colonos de outras regiões do país, o que foi combatido abertamente pelos povos indígenas, que em 1988 se reuniram na primeira assembleia de suas lideranças, com o apoio da Diocese. Foi aí que nasceu a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), sendo também a primeira luta pela demarcação e homologação da Área indígena, algo que foi conseguido. A partir daí, lembrou o Bispo, foi a luta pela educação indígena, pelos direitos de assistência médica, os benefícios sociais e a aposentadoria, uma luta que continua até agora.

 

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