Erguendo os olhos aos céus... (Jo 17,1-11a) - 23/05/2023
Os homens desta época andam de olhos baixos, fitando o chão. Não esperam nada “do alto”. Isto significa que essa multidão de gente prática e pragmática conta apenas consigo mesma, com seus recursos humanos, com seu capital de giro, com seus esforços de gestão. Não admira que vivam tensos, estressados, atentos à variação da Bolsa, esgotados na luta pelo pão, pela roupa, pela saúde.
Claro, isto é coisa de pagão. O próprio Jesus já havia alertado: “São os pagãos que se preocupam com essas coisas. Vosso Pai que está nos céus sabe que precisais de tudo isso”. (Mt 6,32) Com esta frase, aparentemente inocente, o Mestre nos convidava a esperar de Deus as coisas essenciais de nossa vida, o que não dispensa – óbvio! – nossa necessária cooperação pessoal.
Jesus de Nazaré é nosso exemplo perfeito para a experiência de uma vida filial, quando jamais se perde a relação com o Pai do céu, sabendo que Ele tudo provê: “Agora eles sabem que tudo quanto me deste vem de ti”. (Jo 17,7) Neste Evangelho, Jesus reza por si mesmo e por seus discípulos, mas sua prece é iniciada por um olhar: “erguendo os olhos ao céu”. O gesto manifesta o destinatário da oração, mas ao mesmo tempo aponta a fonte de todos os dons.
Eis o que diz monge André Scrima em seu comentário do Evangelho de João: “Jesus já ergueu os olhos ao céu quando ele abençoou os pães e os multiplicou. E também quando rezou por ocasião da Ceia e abençoou. Desta vez, entretanto, é ele mesmo que se oferece e abençoa: ele oferece a si mesmo em oferenda. Ademais, isto acontecia diante do povo ou dos discípulos. Agora, no presente, isto se realiza somente diante do Pai. Neste instante, Jesus é verdadeiramente o único sacerdote, o sumo-sacerdote que só pode sacrificar a si mesmo, pois ele é ‘a oferenda’.
Jesus vem do Pai. Jesus vem a nós em nome do Pai. Jesus aceita o convite do Pai para se dar em sacrifício (cf. Hb 10,5-7). A cada milagre, Jesus sabe que age pelo Pai (cf. Jo 11,41b). No clímax de seu sacrifício, Jesus se abandona ao Pai e brada: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. (Lc 23,46)
Quando deixaremos de olhar para o chão? Quando começaremos a olhar para o alto? Quando passaremos a erguer os olhos ao céu, como filhos confiantes que tudo esperam do Pai?
Orai sem cessar: “Tenho os olhos fixos no Senhor!” (Sl 25,15)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.