Formação Espiritualidade
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02/12/2020 Geraldo De Mori, SJ Edição 3931 É tempo de um novo começo Eis que faço novas todas as coisas (Ap 21,5)
F/ Novena Natal - diocese de Caratinga
"Que os fiéis continuem descobrindo na encarnação e nascimento do Filho de Deus as razões de sua esperança, a força para a travessia do caminho."

 

Geraldo De Mori, SJ 

Em algumas igrejas cristãs, o ciclo litúrgico que começa com o advento é rico da simbólica que caracterizou o cristianismo no primeiro milênio, colocando o mistério da encarnação do Verbo no centro da reflexão dogmática, da ação litúrgica e da existência dos fiéis. A cristologia que daí emergiu, segundo a atual reflexão teológica, é “descendente”, ou seja, voltada à contemplação do mistério de um Deus capaz de kenosis, que assumiu em si o que em muitos outros caminhos religiosos era visto como incompatível à sua condição.

Essa luz que vem do alto ilumina a profunda escuridão que envolve a condição humana, tornando-a capaz de divinizar-se, porque o próprio Deus humanizou-se. Esta compreensão do mistério da encarnação levou à elaboração de uma simbólica rica, que convida os fiéis à descoberta do caminho de Deus na história e do caminho que eles são chamados a trilharem, atualizando novamente a encarnação.

Na Idade Média, um caminho inverso é inaugurado com relação à cristologia, o ‘ascendente”, que parte da vida concreta de Jesus, a começar pelo mistério de sua concepção e nascimento, culminando na cruz, que se torna o lugar central a partir do qual entender o mistério salvífico de Cristo. O nascimento do pobrezinho de Belém é o primeiro momento de um itinerário que aproxima sua existência da de todos os humanos.

O encontro dessas duas perspectivas perpassa o ciclo que prepara para o natal, convidando, por um lado, à contemplação do mistério de um Deus capax hominis, e por outro, à acolhida de um humano capax Dei, que com o dom do seu Espírito, nos faz participar da plenitude de sua divino-humanidade, para que também nós possamos, mais uma vez, nos colocar no caminho que foi o seu, buscando assim conformarmo-nos a ele.

Esse tempo de preparação ao natal é ainda marcado pela emergência sanitária da Covid-19. Em muitos países uma “segunda onda” fez crescer de modo impressionante o número de contágios e mortos. No Brasil, que nem tinha saído da “primeira onda”, é preocupante o aumento dos contágios e óbitos. Em parte, isso se deve ao cansaço de muitos com o isolamento social e suas medidas preventivas. Porém, a ilusão de um retorno ao “antigo normal” só poderá piorar a situação, sobretudo dos mais vulneráveis. Talvez, na sabedoria desse tempo litúrgico vivenciado pela Igreja, resida o segredo de como fazer a travessia da pandemia.

De fato, por um lado, o advento é tempo de um novo começo, ou seja, ele reapresenta de novo o mistério da fé, para que os fiéis continuem descobrindo na encarnação e nascimento do Filho de Deus as razões de sua esperança, a força para a travessia do caminho. Por outro lado, ele é permeado de esperança, pois o salvador prometido, chega, enfim, como “luz para iluminar as nações” (Lc 2,32). No fundo, trata-se de mergulhar na sabedoria que chama de novo a recomeçar e a “esperar contra toda a esperança” (Rm 4,18), “combatendo o bom combate” e “guardando a fé” (2Tm 4,7), tornando-se assim luz para iluminar os que jazem nas trevas.

* Reitor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia

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