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01/05/2020 São Gregório Magno Edição 3923 Deus vê os corações
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"Estão em mim, meu Deus, os presentes que irei oferecer em teu louvor. (Sl 56,13 Vulg.)"

São Gregório Magno

Vocês ouviram, meus irmãos, que Pedro e André deixaram suas redes para seguir o Redentor ao primeiro chamado de sua voz... Talvez alguém diria baixinho: “Para obedecer ao chamado do Senhor, que é que esses dois pescadores abandonaram, eles que não tinham quase nada?”

Neste assunto, porém, nós devemos levar em conta antes as disposições do coração do que a fortuna. Muito deixou aquele que nada reteve para si mesmo; muito deixou aquele a tudo abandonou, mesmo que tenha sido pouca coisa. Aquilo que possuímos, nós o conservamos com paixão, e o que não temos, nós o perseguimos com nossos desejos.

Sim, Pedro e André deixaram muito, pois ambos abandonaram até mesmo o desejo de possuir. Eles abandonaram muito, pois ao renunciarem a seus bens, renunciaram também às suas ambições. Seguindo o Senhor, eles renunciaram a tudo o que eles teriam podido desejar se não o tivessem seguido.

Assim sendo, ao ver algumas pessoas deixarem grandes bens, ninguém diga: “Bem que eu gostaria de imitar aqueles que se desapegam do mundo, mas eu nada tenho para deixar”. Meus irmãos, vocês abandonam muito quando renunciam aos desejos terrestres. Nossos bens exteriores, mesmo pequenos, são suficientes aos olhos do Senhor. É o coração que ele olha, não a fortuna. Ele não pesa o valor de mercado do sacrifício, mas a intenção de quem o oferece.

Se consideramos os bens exteriores, nossos santos mercadores obtiveram a vida eterna, que á a vida dos anjos, em troca de uma barca e de redes. O reino de Deus não tem preço e, no entanto, ele custa a você exatamente o que você possui. Para Pedro e André, ele custou o abandono da barca e das redes; para a viúva, duas moedinhas de prata (cf. Lc 21,2); para alguém, ele custou um copo de água fresca (cf. Mt 10,42). O reino de Deus, já o dissemos, custa o que você tem. Então, meus irmãos, o que será mais fácil de adquirir e mais precioso para possuir?

Pode ser, porém, que você não tenha sequer um copo de água fresca para oferecer ao pobre que dele necessita. Mesmo neste caso, a palavra de Deus nos tranquiliza, pois no nascimento do Redentor, os habitantes do céu se mostraram clamando: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz sobre a terra aos homens de boa vontade”. (Lc 2,14.) De fato, aos olhos de Deus, a mão jamais está vazia de presentes se o segredo do coração está cheio de boa vontade. Daí a palavra do salmista: “Estão em mim, meu Deus, os presentes que irei oferecer em teu louvor”. (Sl 56,13 Vulg.)

É como se ele dissesse abertamente: mesmo que eu não tenha nada de exterior para te oferecer, eu encontro em mim mesmo aquilo que irei depositar sobre o altar em teu louvor. De fato, se não te alimentas de nossos dons, tu te agradas com as oferendas do coração. (In Homilia 5 sobre o Evangelho, PL 76.)

 

GREGÓRIO MAGNO [ca. 540-604] nasceu em Roma e é considerado um dos quatro principais doutores da Igreja do Ocidente. Depois de brilhante carreira como prefeito de Roma, tornou-se monge, transformando sua casa de Clivus Scauri um mosteiro dedicado a Santo André. Foi núncio do Papa na corte imperial de Constantinopla. Em 590, sucedeu ao Papa Pelágio II na sede de Roma. Foi a partir de Gregório Magno que o Papa recebeu o título de “servo dos servos de Deus”. Sua “Regra dos Pastores” seria, na Idade Média, o manual dos bispos. Imprimiu tal desenvolvimento ao canto litúrgico, que lhe foi atribuída a criação do “canto gregoriano” ou cantochão. É venerado como santo igualmente por católicos, ortodoxos, anglicanos e alguns luteranos. Escreveu: Comentários sobre Jó, A Regra dos Pastores, Diálogos e números sermões e homilias.

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