Antônio Carlos Santini
Em tempos de ateísmo satisfeito – quando a noção de Deus já não conta nem incomoda muita gente – acredito que um olhar dirigido para o Universo que nos envolve é a motivação necessária para um despertar espiritual.
Um olhar para fora, rumo ao macroscópico, tenta sondar a aparente infinitude das galáxias; um olhar para dentro, fotografando os nanomateriais, roça mistérios nunca imaginados. Tão grande, tão pequeno, o Criado pede o Criador...
Para quem não ouviu o querigma dos cristãos, existe o Evangelho da Criação. Como observa André Scrima, “uma sensibilidade espiritual nos permite discernir, na criação, sinais ou analogias e símbolos que nos anunciam o Espírito e desvelam os desígnios de Deus”. Além da casca – no macro e no micro – os mistérios pululam e nos introduzem em uma realidade oculta, profunda, à qual não temos acesso direto, diz o mesmo monge oriental.
Na mesma direção aponta a reflexão do Papa Francisco em sua encíclica “Laudato Si” (2015): “As narrações da Criação no livro do Gênesis contêm, na sua linguagem simbólica e narrativa, ensinamentos profundos sobre a existência humana e a sua realidade histórica. Estas narrações sugerem que a existência humana se baseia sobre três relações fundamentais intimamente ligadas: as relações com Deus, com o próximo e com a terra”.
Atribuir ao acaso e à necessidade a existência do Universo me permite zerar o Criador, ignorar o próximo e poluir a terra. Terra e gente? São apenas coisas. Não são dons. Como escreve Francisco, “longe deste modelo, o pecado manifesta-se hoje, com toda a sua força de destruição, nas guerras, nas várias formas de violência e abuso, no abandono dos mais frágeis, nos ataques contra a natureza”.
Ao contrário dos que acusam a religião como uma força alienante, a fé em um Criador me torna responsável. “Esta responsabilidade perante uma terra que é de Deus implica que o ser humano, dotado de inteligência, respeite as leis da natureza e os delicados equilíbrios entre os seres deste mundo, porque ‘Ele deu uma ordem e tudo foi criado; Ele fixou tudo pelos séculos sem fim e estabeleceu leis a que não se pode fugir!’ (Sl 148,5b-6).” (Laudato Si, 68)
O que nos aliena e nos torna irresponsáveis é a perversa visão do mundo que fez do homem um déspota, no centro de tudo, tendo como fins próximos o lucro, o prazer ou o nirvana das drogas, absolutamente desinteressado do destino último da Criação e do vizinho do lado.
O fracasso da educação em nossos dias é apenas um sintoma localizado do que acontece com uma sociedade que arquivou o Criador. Tudo o que existe, nós o fabricamos ou tomamos de alguém. Nada nos foi dado. Não existe o dom. Salve-se quem puder...
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