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18/10/2019 Ir. Dione Afonso, SDN Edição V SEMINÁRIO DE RELIGIOSOS IRMÃOS Plenamente Humano, Simplesmente Irmão!
F/IR.DIONE,SDN
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"Nós, Irmãos Religiosos, temos em comum a vocação à Vida Consagrada com o simples ser humano que somos. Diferente da vocação presbiteral. Essa é a nossa terra. E às vezes ela precisa de um certo adubo e cuidado mais de perto, porque ela está árida, fraca, e, por isso estamos quebrados. "

CRB: V SEMINÁRIO DE RELIGIOSOS IRMÃOS

Plenamente Humano, Simplesmente Irmão!

 

Deu-se início em Fortaleza-CE, nessa quinta-feira, 17 o V Seminário de Religiosos Irmãos. Reunindo mais de 30 Congregações Religiosas espalhadas pelo Brasil e com uma participação de mais de 100 Religiosos Irmãos, a CRB realiza mais um Seminário de encontro, estudo e principalmente de cultivo da Vida Fraterna entre nossos Religiosos. A noite de abertura ganhou a palavra inicial da Irmã Maria Inês, Presidente Nacional da CRB que nos deu as boas-vindas ressaltando o objetivo central deste momento, “aprofundar a maturidade do Religioso Irmão à luz do ser de Maria”. “É preciso – afirma Ir. Maria Inês – fazer a travessia com Maria na simplicidade, pois nós não nascemos simples, nascemos complicados, então, é preciso descomplicar.

 

Plenamente Humano

Nossa assessoria ficou na responsabilidade de Irmã Annette Havenne, ISM que neste primeiro dia nos levou a refletir acerca da primeira parte do tema de nosso Seminário: “plenamente humano”. Ir. Annette nos convida à questionarmos: “como é que eu posso ser cada vez mais plenamente humano? Como ser Irmão me faz plenamente humano?” O humano, afirma, “começa onde os nossos pés pisam. Ser plenamente humano exige de nós o primeiro passo que envolver as nossas relações, afetividades, sentimentos, emoções”. Já paramos alguma vez para verificar a solidez humana de nossa vocação? É possível tornar-se irmão, viver a nossa opção à Vida Consagrada como Irmão, sem me infantilizar, vitimizar e culpabilizar?

“Ou somos pessoas atrofiadas por conta de nossa opção de vida”, ou seja, pessoas amarguradas, que, estagnadas no tempo não souberam se reinventar, não deram conta de se integrar humanamente na Vida Religiosa. Ou, “somos pessoas que, diante de um horizonte de possibilidades, tornamo-nos plenamente humanos”. Ir. Annette, de uma maneira bastante humorada sem perder a seriedade, lembrou do triste fato da queda de um prédio de sete andares ocorrido nessa semana no centro de Fortaleza, “por que um prédio de sete andares desaba? A resposta é lógica: descuidou-se do seu fundamente, de sua base. Por que um Religioso Irmão cai, desaba, atrofia-se? Porque em nossa vida, o fundamento é humano. E, portanto, descuidamos do nosso lado, do nosso ser humano”, alerta Ir. Annette.

Deus, encarnou-se na história em Jesus. E se Ele se encarnou, o humano para nós não é algo para apenas suportar. Mas é caminho. Um caminho que é preciso andar, não podemos pular direto para o espiritual, porque o fundamento ficará comprometido. Na Palavra de Deus, em Gênesis 2, no mito da Criação, temos a experiência concreta do humano. Deus fez Adão. Um humano. Em sua mais pura nudez. E Adão é frágil. Ir. Annette nos chama a lançar um olhar para nossa fragilidade, “nós somos como Adão, frágil, nós nos quebramos. Não somos de ferro! Adão que vem de adamá, ou seja, da terra, é terroso, é feito de terra, é argila, mas, que carrega um sopro de vida”. E, completa, “Somos terrosos, não terror. Mas somos feitos de terra e somos interligados, porque, da terra somos água, ar, árvores, e, portanto, guardiões do jardim. Somos humanos, plenamente humanos. Temos um sopro de vida em nós. Um sopro de vida que alimenta a nossa vocação”.

Ir. Annette questiona o porquê de não conseguirmos, na plenitude reconhecer a nossa fragilidade. E ela afirma que não reconhecer a própria fragilidade é não reconhecer que somos da terra, e, portanto, negar o sopro de vida em nós. “Nós temos medo de olhar para a nossa terra – afirma – porque nela eu encontro o meu pior, o meu terror, o que está quebrado em mim. Olhamos para os próprios olhos e não conseguimos escapar. Não conseguimos mentir para nós mesmos”.

Nós, Irmãos Religiosos, temos em comum a vocação à Vida Consagrada com o simples ser humano que somos. Diferente da vocação presbiteral. Essa é a nossa terra. E às vezes ela precisa de um certo adubo e cuidado mais de perto, porque ela está árida, fraca, e, por isso estamos quebrados. Não estamos plenos humanamente. É frustrante quando encontramos religiosos que depois de toda a vida, antes de morrer busca o sacramento da Ordem para se realizar. “O veneno do clericalismo nos destrói. Ser irmão é ser simples, serviçal, humano, que saiba ocupar seu lugar, é missionário, educador, Irmão... é ser graça, nunca limitação!” conclui Ir. Annette.

 

Plenamente fraternos

A Vida Religiosa começou, lá em seu nascimento, 100% laical com os padres do deserto. Não havia o sacerdócio e o sacramento da ordem. Depois, com o tempo e com a necessidade do povo de Deus, as coisas foram mudando sua roupagem. Hoje, diz a Ir. Annette “precisamos encontrar o equilíbrio entre rezar, trabalhar, estudar, comer e dormir. Caso contrário, vamos ficar correndo de SPAs para academias, de hidromassagens para sessões de yoga em busca do equilíbrio que se perdeu. Não vive mais a plenitude humana. Deixou de cuidar do humano e passou a cuidar mais da estrutura da paróquia, da administração, do clericalismo que a cada dia nos afasta cada vez mais da opção original da Vida Religiosa Consagrada”.

Quando o papa Francisco foi questionado por um jornalista do porquê que ele decidiu morar em Santa Marta e não em seu palácio pontifício, entre risadas ele respondeu que sua decisão tinha “motivos psiquiátricos”. Em outras palavras, Francisco é um Religioso, Francisco é humano, Francisco é Irmão, e como tal, ele é chamado a viver em comunidade.

Viver em comunidade é cuidar primeiramente de nossa fraternidade. Serve para lembrar a nós que somos Irmãos, e ser irmão é ser também fraternos. É em comunidade que o nosso fundamento humano se constrói, até mesmo naquela fragilidade da terra, do barro que racha e quebra também. “Precisamos assumir que sabemos andar, mesmo quebrados, mas, humanos – lembra Ir. Annette. – Assumir nossa fragilidade é assumir nossa humanidade. Não ter medo de nos integrar em nossa individuação. Reconhecer o sopro de vida que carregamos. Ser plenamente humano é passar do ego para o si mesmo. É descobrir onde estamos e quais as nossas raízes. É não tirar os pés do chão. Mas, integrar-se nele.

Continuando o seu tom alegre e humorístico, Ir. Annette lembra-nos dos jogos olímpicos para falar do conflito de gerações. “A chama olímpica é feita, pela tradição, para ser passada para os outros e, não para que nos coloque numa corrida frenética, cansados e esgotados, velhos. É preciso acreditar  e estimular as novas gerações que chegam e estão cheios de energia para assumir a tocha olímpica e passar para frente. O que acontece? O jovem religioso, na sede de trabalhar, toma a força do irmão velho e sai correndo com a tocha na mão. Começa a correr e, num certo momento, ele, perdido, para e vira-se para trás porque não sabe para onde que é pra correr. É preciso, na maturidade da Vida Religiosa Consagrada apontar para os que chegam a chama dos jogos olímpicos e deixar que os novos irmãos levem para frente a própria vocação religiosa”.

Para concluir, Ir. Annette deixa um pensamento do romancista Victor Frank: “eu não sou o que aconteceu comigo. Eu sou o que eu faço com o que aconteceu comigo”.

 

Ir. Dione Afonso, SDN

Missionário Sacramentino de Nossa Senhora

dafonsohp@outlook.com

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