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13/05/2021 Robson Ribeiro de Oliveira Castro Edição 3936 Cento e trinta anos da Rerum Novarum e a pandemia
F/ Pixabay
"É urgente recuperar a dignidade dos trabalhadores e, como nos afirma o papa Leão XIII"

Ao nos depararmos com a pandemia do novo coronavírus, nossa realidade mudou! A crise econômica e social é sem precedentes, principalmente com o desemprego. Com isso a fome voltou a ser o cenário de milhões de brasileiros e brasileiras.

A Encíclica Rerum Novarum escrita pelo Papa Leão XIII aos 15 de maio de 1981 completa 130 anos neste ano de 2021. Entretanto, aparenta ser tão atual com o nosso tempo que, no seu segundo parágrafo, o Papa Leão XIII afirma: “os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça duma concorrência desenfreada”.  Ironia do destino, parece que foi escrita para a realidade do Brasil.

É claro que a realidade é outra! A Encíclica de Leão XIII foi escrita por causa da Revolução Industrial. Já em 2021, vivemos o contexto da Covid-19; temos um país entregue ao descaso. Muitos dos brasileiros perderam seus empregos ou tiveram que adaptar a vida para fazer algum tipo de “bico” para completar a renda familiar. Desta forma, diversos trabalhadores se sujeitam à exploração para manterem seus empregos. Infelizmente, a atual gestão governamental e os constantes desmontes dos direitos e das leis trabalhistas não colaboram para a estabilidade dos empregos e só fazem aumentar a insegurança dos operários e/ou trabalhadores que estão isolados, vivendo uma terceirização que compromete, tira os direitos e, com a pandemia, acelera a precarização do trabalho.

Fome, outra face da pandemia

A pandemia colocou o ser humano em uma realidade complexa e difícil. A crise do trabalho é resultado de uma opção social e mostrou a sua pior face: a fome! O que mais nos indigna é que há recursos naturais para todos, a natureza fornece ao homem tudo o que ele precisa e sua manutenção e preservação da vida. Entretanto, o ser humano utiliza dos recursos sem se preocupar com o próximo.

O Papa Leão XIII já advertia a realidade de que o empregado deve receber um salário digno para que possa se manter e sustentar sua família, além de, caso seja possível, de forma digna, guardar alguma quantia para adquirir um patrimônio. (cf. Rerum Novarum, n. 28).

Por isso, na atualidade, é preciso atentar para a manutenção dos empregos, a realidade dos trabalhadores e a situação de desemprego que voltou a crescer no Brasil, comprometendo o bom desenvolvimento social. De fato, esse cenário convoca a repensar, a médio e longo prazo, os planos e processos de preservação dos empregos e observar as alternativas para a vida de milhares de famílias.

Diante desta grave crise que nos assola, devemos voltar nossos olhares e esforços para os desamparados. É urgente o zelo pelos mais pobres! Para tanto, o Papa Leão XIII se preocupava com os direitos dos trabalhadores. Desta forma, é preciso observar o que é feito com o trabalho e sua realidade advinda de uma desvalorização do trabalhador e os problemas sociais que isso acarreta.

A dignidade do trabalho

É urgente recuperar a dignidade dos trabalhadores e, como nos afirma o papa Leão XIII no parágrafo 19 da Encíclica Rerum Novarum:“aos governantes pertence proteger a comunidade e as suas partes: a comunidade, porque a natureza confiou a sua conservação ao poder soberano (...); as partes, porque, de direito natural, o governo não deve visar só os interesses daqueles que têm o poder nas mãos, mas ainda o bem dos que lhe estão submetidos”.

Assim, como se fosse escrita nos dias atuais, as linhas do Papa Leão XIII, em 1891, ressoam como hoje: “Importa grandemente que os encargos sejam distribuídos com inteligência, e claramente definidos, a fim de que ninguém sofra injustiça. (...) que os direitos e os deveres dos patrões sejam perfeitamente conciliados com os direitos e deveres dos operários” (Rerum Novarum, n.33).

Para tanto, é preciso observar o que está visível em termos de pandemia. A crise que nos assola fez aumentar o distanciamento das classes sociais. É necessário lutar pela valorização da vida e do trabalhador, principalmente em uma sociedade individualista, gananciosa, narcísica e desumana, o papa Leão XIII assevera sobre a realidade dos governantes e autoridades: “Façam os governantes uso da autoridade protetora das leis e das instituições; lembrem-se os ricos e os patrões dos seus deveres; tratem os operários, cuja sorte está em jogo, dos seus interesses pelas vias legítimas” (Rerum Novarum, n. 35).

Portanto, que o espírito da Rerum Novarum, sendo a primeira encíclica a tratar concretamente de temas ligados à ética social, principalmente com relação à condição dos trabalhadores. Desta maneira, é urgente combater a cultura do descartável que faz com que o ser humano seja um mero objeto. Que seja possível escutar o clamor de uma ética social pautada no cuidado com os trabalhadores e seus direitos.

Robson Ribeiro de Oliveira Castro – Leigo, casado, pai da Emília e do Francisco. Mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em BH. Membro do Conselho Regional de Formação (CRF) – LESTE II do CNLB.

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