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26/01/2022 Luis Miguel Modino - Regional Norte 1 Edição 3944 Alexandre Costa, Segunda parte da Entrevista com Alexandre Costa 2/2
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"Não tenho dúvidas que o Papa Francisco é um aliado relevante desse processo. [...] Se a gente não entender a prioridade que a defesa da ecologia e a questão da emergência climática e a questão da preservação da biodiversidade, da nossa água, do bem comum [...], a gente corre o risco de perder tudo. "

Nesta segunda parte da entrevista, [confira a primeira parte] um dos autores principais do Primeiro Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, que tem um projeto de divulgação científica voltado para a divulgação das ciências do clima, nos ajuda a entender quem está contribuindo para que tudo isso aconteça. Diante de tanta desinformação, muitas vezes auspiciada pelo poder econômico e político, a sociedade é chamada a tomar consciência da gravidade da situação. Alexandre Costa considera o Papa Francisco como um dos grandes aliados nesta luta em defesa do meio ambiente, da Casa Comum. Uma luta que deve ser assumida no campo da política, onde chama a eleger àqueles que tem a defesa do meio ambiente como agenda prioritária.

A gente sabe que a preservação de todos os biomas é fundamental para o futuro do Planeta, mas olhando para o Brasil o grande bioma é a Amazônia. Como convencer a opinião pública sobre a necessidade da preservação da Amazônia e do cuidado dos povos que tradicionalmente cuidaram do bioma amazônico?

A gente precisa dar voz aos povos da floresta, eles são de fato quem melhor cuida, como mostram todas as evidências do monitoramento por satélite. As terras indígenas são as melhor preservadas, porque eles atuam de fato como guardiões das florestas, que são grande refúgio de biodiversidade, fonte de água, estoque de carbono, são inúmeros os serviços que as florestas prestam gratuitamente para nós. Esse é um aspecto fundamental.

O outro é mostrar, e isso deve estar nas escolas, nas redes sociais, na grande mídia, como a manutenção da floresta de pé é crucial para inúmeras questões. Por exemplo, o Brasil tem uma dependência crucial das chuvas para produção de eletricidade. A nossa segurança energética, a manutenção dos reservatórios de hidroeletricidade, é depende da reciclagem de água que a Amazônia faz justamente da grande evaporação da floresta, vapor de água que depois é transportado pelos rios voadores, levando essa umidade para o sudeste da América do Sul, esse é um serviço fundamental.

Outro aspecto fundamental é que há tanto carbono estocado na vegetação do solo da Amazônia que colocar esse carbono na atmosfera equivale a 10 anos de emissões globais. Precisa não apenas falar de proteger os biomas, mas de recupera-los, recuperar esses estoques de carbono é fundamental para a proteção do clima.

É uma enorme batalha que precisa ser travada contra a desinformação e para que as pessoas entendam que a floresta é fundamental para poder ter água, comida e energia. Por tanto, não é uma agenda secundária. Além disso, outro aspecto, estudos mais recentes mostram que pelo menos parte da floresta, pode se tornar irremediavelmente degradada, incapaz de se recuperar como floresta tropical, se nós perdemos de 20 a 25% do bioma, e nós já estamos em 18% de desmatamento, até o ponto de ser floresta sazonal ou mesmo savana. Imaginemos a grande tragédia que isso seria.

Aí tem uma questão que é crucial, que é o combate à desinformação e a necessidade de colocar na urna e nas ruas a pauta em defesa da Amazônia, na agenda de proteção dos biomas brasileiros, com um destaque para a maior floresta tropical do mundo, que precisa estar no topo dessa agenda.

O Papa Francisco tem assumido o cuidado da Casa Comum como uma prioridade, algo que aparece na encíclica Laudato Si, onde fala abertamente da ecologia, e ele promoveu o Sínodo para a Amazônia. Qual a importância e o papel que o Papa Francisco pode ter nesse ajudar a humanidade a tomar consciência da necessidade do cuidado da Casa Comum?

Não tenho dúvidas que o Papa Francisco é um aliado relevante desse processo. Tive a possibilidade de ler a encíclica Laudato Sí, ela realmente é muito interessante, inclusive porque destaca a necessidade de jogar o aspecto ecológico sob a perspectiva dos fatos reais, e articular uma solução, saída para a crise ecológica, que não seja uma saída excludente, onde as maiorias sociais, que não são responsáveis pelo aquecimento global, que em sua grande maioria não são responsáveis pela devastação do mundo natural, eles tenham que pagar a conta.

Hoje já são bastante vulneráveis aos eventos extremos, e terminam sofrendo muito mais com esses processos. Você tem o risco de multiplicação de migrantes climáticos a cada décimo de grau que o Planeta aquece. Então o papel do Papa é bem relevante, e é assim que os protagonistas das principais lutas devem trata-lo. E quando eu digo protagonistas, eu me refiro aos povos originários, povos indígenas e comunidades tradicionais, e a juventude, que tem tido um papel fundamental para mobilizar e sensibilizar. Nesses contextos, sem dúvida alguma, o Papa é aliado.

No contexto da agenda política em 2022, em que o Brasil vai ter eleições, qual seria sua mensagem para o mundo político e para a sociedade brasileira?

Essa eleição evidentemente, eu vejo como uma inflexão. Se nós não tivermos, não apenas Bolsonaro e sua corja negacionista desocupando o executivo, onde estamos vendo toda sorte de desmonte ambiental desde o monitoramento, os ataques ao INPA, a fiscalização, o desmonte descarado do Ibama, mas também do legislativo, que tem colocado uma agenda anti ambiental no Congresso, de flexibilização de normas ambientais, de liberação geral para as mineradoras e o agronegócio.

Se a gente não entender a prioridade que a defesa da ecologia e a questão da emergência climática e a questão da preservação da biodiversidade, da nossa água, do bem comum. Se nós não tivermos a noção de que isso deve estar na agenda prioritária, não apenas de quem nós vamos votar para presidente, mas também para quem a gente vai votar para o Congresso, a gente corre o risco de perder tudo. Diante de uma urgência, de uma gravidade extrema, nós precisamos fazer dessa eleição um ponto de inflexão.  

 

 

 

 

 

 

 

Foto: Prensa Celam

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