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25/07/2020 Ir. Dione Afonso, SDN Edição 3926 Acolhida e hospitalidade durante epidemia
F/ Pixabay - Alexas
" A Pastoral da Acolhida não se resume no entregar um papel na porta da igreja, nem no cantar uma música."

 Ir. Dione Afonso, SDN - dafonsohp@outlook.com

 

“Nunca se esqueçam da hospitalidade...” (Hb 13,2). A hospitalidade, etimologicamente “dar ajuda/abrigo aos viajantes”, é tradição que tem raízes na antiguidade clássica e na Escritura. Uma hospitalidade cristã consiste num fraterno acolhimento a quem chega, sem fazer distinções. Nas derivações do adjetivo hospitalidade também encontramos o acolhimento. O ato de acolher consiste em numa atitude inclusiva, ou seja, aquele que inclui, acolhe. Incluir, significa dizer que “você deseja que o outro faça parte de seu grupo, família... quer que o outro faça parte”. Esse é o ponta pé inicial de uma verdadeira acolhida, de um serviço fraterno de acolher quem se aproxima de nós.

No livro “Pastoral da Acolhida e Hospitalidade”, Pe. Nelito Dornelas parte desse princípio transmitido a nós pela Carta aos Hebreus. Acolher bem, “consiste em acolher a todos”. Uma paróquia que possui uma boa acolhida demonstra que o acolher bem ultrapassa os gestos de boas-vindas que despojamos nossos portões de nossas igrejas.

 

Sobre acolher e ser hospitaleiros

Acolher é um gesto de amor. E, quem acolhe, acolhe alguém. Uma boa acolhida tem a ver com a ação concreta de amor e carinho pelo próximo. É um amor fraterno. Um amor doado ao outro. Acolher revela atitudes concretas de hospitalidade, solidariedade, respeito, escuta, partilha, espírito de bondade. E tudo isso revela um testemunho que muitas vezes nos é permitido demonstrar na vida em comunidade.

Quem acolhe bem, acolhe bem em comunidade. E uma boa acolhida começa lá no portão de nossa casa. Lembre-se que Jesus só conseguia falar do Reino nas casas em que ele era bem acolhido. Cristo experimentou a hospitalidade na casa de Simão (Lc 4, 38), em Caná (Jo 2, 2), na casa de Zaqueu (Lc19, 1-10), na casa de Lázaro, Marta e Maria (Jo12, 2-3), na casa de Simão (Mt 26, 6-7), na casa dos discípulos de Emaús (Lc 24, 29-30). “Quem recebe vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe Àquele que me enviou” (Mt 10, 40).

Exercer a hospitalidade em nossas casas é essencial para que saibamos o valor de acolher bem. A Pastoral da Acolhida não se resume no entregar um papel na porta da igreja, nem no cantar uma música. Tudo isso faz parte. No entanto, esse serviço se estende na preparação de um ambiente acolhedor e favorável. Acolher bem tem a ver com família. Quando acolhemos bem no fundo estamos dizendo: “você faz parte de nossa família. E nossa casa é sua casa também”.

 

Acolher é desafiador

Na Alegria do Evangelho, Papa Francisco faz um alerta a todos nós. Ele chama a atenção para o crescente número de adeptos a um movimento religiosos que prega uma “espiritualidade sem Deus”. Para ele, “se uma parte do nosso povo batizado não sente a sua pertença à Igreja, isso deve-se também à existência de estruturas com clima pouco acolhedor em algumas das nossas paróquias e comunidades” (EG, 63). O papa ainda conclui este mesmo número chamando a atenção para atitudes pastorais mais preocupadas com as questões burocráticas deixando predominar mais o aspecto administrativo esquecendo da evangelização missionária mais humanizada.

Diante disso, afirmamos que acolher também é humanizar. Tem a ver com o sentir o outro. Acolher nos permite reconhecer o outro como um igual a mim. Quando voltamos às Sagradas Palavras do Evangelho percebemos que antes mesmo que Jesus nascesse, ele foi rejeitado. Não foi acolhido, não foi visto e sentido como um ser humano. Quem não acolhe, não salva, não recupera e não ajuda a sanar a ferida do outro. Quem rejeita hospitalidade a alguém abre uma ferida, por vezes, difícil de se curar. “Quando levantamos outras questões que suscitam menor acolhimento público, custa-nos a demonstrar que o fazemos por fidelidade às mesmas convicções sobre a dignidade da pessoa humana e do bem comum” (EG, 65).

Acolher é colocar em comum. “A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho” (EG 114). Diante do tempo que estamos vivendo, diante do mundo em pandemia por conta do coronavírus, a acolhida é ainda mais urgente. Se compreendemos o real sentido prático de acolher bem, compreenderemos a real necessidade em salvaguardar a vida do próximo.

 

Acolher bem em plena pandemia

Por fim, o Pe. Nelito Dornelas ainda não desejou atualizar sem pequeno manual sobre Acolhida e Hospitalidade. Essa também não é nossa intenção. Contudo, percebemos que nossas comunidades e paróquias têm se desdobrado para que o nosso povo continue sentindo-se acolhido e amado por nossos pastores. Diversas dioceses no país estão se adaptando e se reinventando para que a presença e participação dos fieis continue.

Por isso que acolher tem a ver com salvar, curar, cuidar... Equipes de acolhida têm recebido treinamentos nas mais diversas paróquias a fim de acolher sempre melhor os fiéis. Dentro das normas sanitárias, não podemos fazer de nossas igrejas um centro de proliferação do vírus, mas, temos que cuidar de nosso povo.

Em tempos de pandemia, a solidariedade, a escuta, a proximidade, a compreensão, devem estar sempre presentes em nós como atitudes cristãs. Agora, a acolhida perde o contato do abraço, do aperto de mão, da entrega de lembranças, recadinhos motivadores. Tudo é feito à distância. Mesmo assim, a acolhida deve sempre nos aproximar. Aproximar cada um e cada uma de nossa casa, nossa comunidade.

Acolher é acompanhar. Hoje, nas portas das igrejas um agente de pastoral, treinado, está aferindo sua temperatura. Outro te ajudando a se higienizar, outro está à sua disposição para te auxiliar no que for preciso. Com pandemia ou não, acolher é sempre cuidar com carinho e atenção dos nossos irmãos e irmãs. Assim nossas comunidades serão sempre mais hospitaleiras. Com a pandemia, as Equipes de Acolhida devem perceber que o cuidado e a atenção devem sempre existir. Menos papel e mais abraços (quando essa pandemia acabar, é claro), menos inscrições e mais atenção e escuta. Menos plantões nas portas das igrejas e mais sorrisos. Isso é hospitalidade.

A hospitalidade não tem cor nem religião. “Não vos esqueçais da hospitalidade pela qual alguns, sem saber, hospedaram os anjos” (Hb 13, 2). E São Pedro nos aconselha a “exercer a hospitalidade uns com os outros sem murmuração” (1Pd 4, 9).

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