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07/08/2019 Denilson Mariano da Silva Edição 3915 A fé busca compreensão
F/ Pixabay
"A articulação entre fé e razão nos permite crescer sempre mais na compreensão do mistério de Deus e da vida humana."

A fé busca compreensão

 

Quando se trata das questões de fé, estamos em um campo muito importante, no entanto ainda cheio de incompreensões. Há quem pense que a fé se opõe à razão e neste caso seria coisa de pessoas mais simples, pouco instruídas ou que não chegaram a um conhecimento sólido. Alguns mais ousados talvez digam que ao chegar a uma razão mais elevada, pode-se abrir mão da fé. A fé corresponderia a um conhecimento não crítico, não sustentável pela razão. Neste caso a fé seria inferior à razão.

Por outro lado há quem defenda que quando a razão não dá conta de apresentar justificativas a determinada coisa, ou seja,  quando há um limite para a ciência, então se apela para fé. A fé teria explicação para aquilo que ultrapassa a ciência e, neste caso a fé seria superior à razão. Em nossos dias, vivemos um tempo de muitas polarizações. Cada um se julga dono da verdade, neste clima de muitas palavras e pouca capacidade de escuta, fica ainda mais difícil avançar em um diálogo maduro e fecundo.

Há um ditado latino, de Santo Anselmo, que diz: “fides quaerens intellectum”: a fé busca intelecção, ou seja a fé busca a compreensão. Essa busca se dá tanto na direção do objeto da fé, ou seja, daquilo que envolve as questões de fé: Deus, Jesus Cristo, Igreja, religião, etc. Quanto também diz respeito ao próprio ato de crer: o que leva a pessoa a crer? Por quê a fé está presente no modo de ser das pessoas? Que força é essa que nos leva a ir para além da ciência?

Santo Anselmo buscou aproximar a visão cristã da fé, enraizadas nas primeiras comunidades cristãs e os questionamentos próprios da filosofia grega. Em outras palavras, já nos primeiros séculos da história do cristianismo buscava uma aproximação entre razão e fé. Mais tarde, entre outros, Santo Agostinho dialoga com o pensamento de Platão, depois Santo Tomás de Aquino dialoga com a Filosofia de Aristóteles e alarga ainda mais essa reflexão entre razão e fé. Mais recentemente João Paulo II elaborou a encíclica “Fides et Ratio” (1998) para reforçar a ligação entre razão e fé: “A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio” (Nº 1)

Fé e razão se complementam, somos constantemente convocados a dar a razão de nossa esperança (cf. 1Pd 3,15). Para isso é fundamental a capacidade de diálogo, a capacidade de escuta da Palavra de Deus, de escuta dos ensinamentos da Igreja, de escuta da Teologia. Também escuta dos avanços da ciência, das novas descobertas e sobretudo de escuta do Espírito de Deus que sopra onde quer e que age na Igreja e na Sociedade. Espírito que fala por meio da voz da fé e nas entrelinhas sadias da ciência. Que Deus nos conceda um espírito aberto e sempre vigilante para captarmos o que Senhor diz a nós, a nossa Igreja e a nossa sociedade por meio de seu Espírito.

Que busquemos sempre as razões de nossa fé, as razões da nossa esperança e que nossa fé nos leve à verdadeira sabedoria que se desdobra em ações, decisões e atitudes responsáveis, maduras, comprometidas com a vida. A articulação entre fé e razão nos permite crescer sempre mais na compreensão do mistério de Deus e da vida humana. Porém o fechamento quer por força da fé, quer pela estreiteza da razão, nos sufoca e nos impede de caminhar na direção da verdade que liberta (cf. Jo 8,32). E isso é pra começo de conversa.

 

Denilson Mariano

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