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14/03/2020 Pedro Ribeiro de Oliveira Edição A Economia de Francisco
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Vai realizar-se em Assis, de 26 a 28 de março o encontro “A Economia de Francisco”. O evento convocado pelo Papa reunirá mais de dois mil jovens economistas e empreendedores, para pensar o tema a partir do exemplo de São Francisco que rejeitou a economia de egoísmo e optou por uma economia do dom, como explica a matéria publicada pela CNBB, em 14/01/2020. Prevê-se que o Brasil enviará cerca de 30 participantes.

Há quem estranhe o Papa incentivar um debate internacional sobre economia, disciplina que parece tão alheia às prescrições do Cristianismo. Na realidade não se trata de alheamento, mas de oposição. Os Evangelhos mostram um Jesus radical ao obrigar seus seguidores e seguidoras a optar: “não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Lc 16,13). Os Atos dos Apóstolos mostram que a Igreja dos primórdios levou a sério essa mensagem: “ninguém considerava como propriedade sua algum bem seu; ao contrário, todos punham tudo em comum (At 4,12). Francisco aplica essas palavras aos tempos atuais em sua iluminada Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho onde afirma, sem meias palavras: “Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Essa economia mata” (53).

É o imperativo de defender a vida que obriga a Igreja a colocar em questão os processos de morte embutidos na atual economia de mercado. A ética cristã – aliás, toda ética verdadeiramente humana – não pode se furtar a essa discussão, e fazer de conta que a economia é apenas uma disciplina regulada por cálculos matemáticos. O exemplo de São Francisco, que praticou até o limite a economia da partilha e da solidariedade, deve inspirar os jovens a pensar um novo modo de produzir e consumir, igualitário e respeitoso dos direitos da Terra.

Entre as experiências que serão apresentadas em Assis, a CNBB destaca uma que hoje se difunde por todo o Brasil: a economia solidária. Um jovem que participará do encontro diz na entrevista que “é um modo de produção que valoriza o bem comum, apresenta-se como mais humanitária, mais democrática e participativa e está assentada nos princípios da cooperação, solidariedade e auto-gestão”. Nela impera o princípio da cooperação, ao invés do princípio da competição, que impera na economia de mercado.

Dito assim, pode parecer que se trata de humanizar a economia de mercado, diminuindo-se o teor de competição e aumentando-se o teor da cooperação, de modo que as pessoas mais eficientes e fortes ajudem a menos capazes a também terem sucesso. Nada disso! Não se trata de dar um verniz de humanidade à economia de mercado, mas sim de mudar sua própria lógica de funcionamento: na economia solidária, o dinheiro deixa de ser o motor da economia, tornando-se apenas facilitador das trocas, como equivalente monetário do valor das mercadorias.

A consequência prática dessa mudança é que o dinheiro não se transforma em capital, que rende juros ou dá lucro. Na economia solidária existe empréstimo, mas não juros. Quem consegue acumular algum dinheiro é levado pelo próprio sistema a generosamente emprestá-lo a quem mais necessita. E sabe que, quando necessitar, terá alguém que por sua vez vai socorrê-lo sem cobrar juros.

Será possível fazer dessa experiência de economia solidária, até agora restrita a comunidades à margem do mercado, a norma de funcionamento da economia mundial no século 21? Este é um dos desafios que Francisco faz aos e às jovens: criar uma economia a serviço da vida, capaz de tomar definitivamente o lugar da “economia que mata”.

Pedro A. Ribeiro de Oliveira – Membro da Coordenação Nacional – Juiz de Fora MG

Fonte: http://fepolitica.org.br/artigos/a-economia-de-francisco/

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