Roteiros Pastorais Homilética
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16/10/2021 Pe. Nelito Nonato Dornelas Edição 3941 29º Domingo do Tempo Comum 17/10/2021
Periodista digital
"Ao afirmar que o Filho do homem veio para servir e não para ser servido, Jesus quer mostrar a necessidade de instrução permanente dos discípulos sobre a opção de vida para a qual foram chamados. Ela não pode ser diferente da opção do mestre."

 

Leituras: Isaías 53, 10-11 - Salmo 32 (33) 45, 18, 19, 20, 22 R/ 22 - Hebreus 4, 14-16 Marcos 10, 35-45 ou abreviada Marcos 10,42.45. (os filhos de Zebedeu)

1 – Situando-nos

Ao afirmar que o Filho do homem veio para servir e não para ser servido, Jesus quer mostrar a necessidade de instrução permanente dos discípulos sobre a opção de vida para a qual foram chamados. Ela não pode ser diferente da opção do mestre. Eles pedem para ocupar os primeiros lugares no reino. Jesus rejeita o pedido e exige segmento: beber seu cálice e ser batizado com seu batismo. Sem compreender, eles o prometem. Então Jesus lhes ensina que esta ambição tem que ser transformada, a partir de dentro, na perspectiva do serviço, da entrega, da cruz, do martírio em vista do resgate da humanidade.

A ambição apresentada é profundamente provocadora, pois seus melhores discípulos solicitam algo totalmente contrário ao que ele tentou ensinar-lhes tanto. Sinal de que não compreenderam nada. É um pedido tão vergonhoso, que o evangelista Mateus, ao relatar tal fato, preferiu dizer que foi a mãe deles quem pediu (Mt 20, 20). De fato só aprenderam mesmo depois da morte e ressurreição de Jesus. Mesmo diante da sua incompreensão, Jesus insiste na grandeza da lição final do dom e entrega de sua própria vida.

Esse episódio situa-se no contexto de Marcos 8,1-10,45 que é a grande instrução de Jesus a caminho de Jerusalém. Ele não poupa seus discípulos e lhes apresenta três anúncios da Paixão. O de hoje é o último. Estamos no fim da instrução.

O quarto cântico do servo sofredor apresenta o justo esmagado que, por seu sofrimento, assumiu a culpa de muitos e, é, por isso, duplamente amado por Deus: por ser justo e por levar os outros a serem justos por seu sofrimento.

Esse cântico tem seu correspondente na conclusão desse evangelho: o Filho do Homem veio para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Esta é uma das frases mais importantes dos Evangelhos. Junto com Marcos14, 24 é o único lugar onde Jesus anuncia claramente o motivo da sua morte violenta. É a tradução da profecia de Isaías 53, que expressa a dimensão do resgate, da libertação ou aquisição de uma pessoa, de um escravo.

Na perspectiva do resgate, está a dimensão da satisfação, do mistério da eficácia redentora da paixão, morte e ressureição de Cristo. Ela atinge o mal pela raiz na pessoa de Jesus que, fazendo-se obediente até a morte, e, morte de Cruz, nos libertou para a plenitude da vida.

Por suas chagas fomos curados (cfIs 53,5); Deus amou a humanidade, a ponto de enviar seu Filho ao mundo para reconciliar-nos consigo (cf 2 Cor 5, 19); Jesus, o primogênito de muitos irmãos (cfRm 8, 29); fez-se obediente até a morte (cfFl 28); cordeiro sem mancha (cfHb 8, 26); ele tomou sobre si os nossos pecados e se tornou nosso mediador (cf 1Tm 25); a morte é para ele o preço do pecado (cfRm 6, 23) e reparou aos olhos de Deus suas ofensas e mereceu que a graça divina fosse novamente derramada no coração da humanidade, pelo resgate realizado por meio do corpo de Jesus entregue por sua redenção.

A carta aos hebreus retoma a teologia do servo sofredor na pessoa de Jesus, elevando-o à dignidade sacerdotal. Supera-se o sacerdócio do Antigo Testamento, fundado nos descendentes de Aarão e o apresenta na dimensão da oferta a Deus da própria vida, em solidariedade com a humanidade. Aliás, Jesus é o único sacerdote no Novo Testamento. Os que hoje chamamos de sacerdotes são na realidade presbíteros,ministros, servos de Jesus. Ministram no altar o sacrifício de Jesus, exercendo o sacerdócio ministerial.

Os fiéis cristãos leigos e leigas, renovam e atualizam o dom da entrega de Jesus, com o dom de sua própria vida exercendo, no cotidiano, o sacerdócio batismal do Povo de Deus, cumprindo o mandamento do apóstolo Paulo: “Eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: esse é o vosso verdadeiro culto” (Rm 12,1).

2- Recordando a Palavra

Primeira leitura- Isaías 53,10-11.O quarto cântico do servo sofredor apresenta um personagem anônimo, que cumpre a vontade divina, por meio de um profundo sofrimento. O servo, que também pode ser uma figura coletiva, se compraz em dar a sua vida como resgate por muitos, ele, a vítima de expiação, o justo esmagado, é que assume e resgata as faltas dos muitos, por isso Deus o exaltou.

Esse comprazer-se caracteriza a ação do próprio Deus e indica um amor forte e determinado, noservo sofredor.Isso corresponde à ação do servo exaltado em Filipenses 29,11 (por sua obediência pode justificar a muitos) e em Romanos 3, 26; 5,19 (tornando-se assim início de um povo novo).

 Segunda leitura- Hebreus 4,14-16. Hebreus desenvolve a teologia do sacerdócio. Jesus, sacerdote misericordioso, por seu sacrifício, penetrou nos céus, pela solidariedade conosco, seus irmãos e irmãs. Ele se faz igual a nós em tudo, exceto no pecado.

Esta solidariedade não foi interrompida pela destruição do templo. Ele mesmo é sacerdote, templo e altar. Aliás, o único. Podemos continuar a ir a ele e, por ele, ao Pai. Esta palavra era confortadora para os seus destinatários que haviam perdido o templo, o sacerdócio e a terra. 

Jesus ressuscitado, tendo subido ao céu, é o lugar do nosso encontro com o Pai. Afirmar que Jesus é o sumo sacerdote que entrou no santuário, que não foi edificado por mãos humanas, e que ele é igual a nós em tudo, sempre foi o grande alento para as comunidades cristãs, quando estas se sentiam abatidas por suas fraquezas, pela tentação ou pelas perseguições. 

Jesus é o nosso sumo e eterno sacerdote, o pontífice que é capaz de se compadecer de nossas fraquezas, conhecedor das carências humanas, eleva nossa condição humana à santidade de Deus, e, em sua misericórdia, recupera, na comunidade cristã, a confiança na luta contra o mal e na busca da salvação.

 Evangelho - Marcos 10, 35-45. Ao convidar a renunciar às riquezas, Jesus o faz na disponibilidade do seu seguimento na perspectiva do reino. A cruz, apresentada aos discípulos no horizonte de seu caminho, causa espanto e temor. Mesmo assim este terceiro anúncio da paixão não foi o suficiente para a mudança de mentalidade dos discípulos.

No pedido dos filhos de Zebedeu, para se assentarem à direita e à esquerda de Jesus, no seu reino e, na indignação que este pedido causou aos outros discípulos, revela que eles ainda não compreendem o significado do seguimento.

Somente depois de beberem do ‘Cálice de Jesus’, no dom da sua vida, o servo sofredor, despojado de todo poder, numa entrega total, e de serem batizados como o mesmo ‘batismo de Jesus’, acolheram plenamente o alcance de sua pregação: ‘entre vocês não pode ser assim’.

 3- Atualizando a Palavra

Podemos gostar de crucifixos de marfim com gotas de sangue em rubis, como era comum nas missões populares em outras épocas. Difícil mesmo é amar uma pessoa que foi diminuída, quebrada, mutilada, ofendida e desonrada. Deus faz opção por esta pessoa, não por sadismo, como se precisasse castigar alguém ou necessitasse de tamanha dor. É que o verdadeiro amor, que é comunhão, só se reconhece no justo que foi esmagado por causa da Justiça.

O povo da Antiga Aliança aprendeu que o seu Deus faz essa opção, no exílio babilônico. Não se sabe quem foi o justo torturado pelos ímpios do qual fala Isaías 52, 13; 53,12, mas sabemos que esse povo dele aprendeu. Enquanto, diante dele cobriam-se o rosto, descobriram que ele carregou os pecados do povo e morreu por ele.

Choraram sobre aquele que transpassaram (cf Zc 12,10). Parece que a humanidade necessita ver em alguém o resultado de sua malícia, para dela se arrepender. As reivindicações sociais só são concedidas, após algumas ou muitas mortes. Os movimentos de emancipação só têm voz e vez, quando suscitam mártires.

Infelizmente a humanidade precisa de vítimas de injustiça para reencontrar o caminho da Justiça. A recente história da América Latina e do Brasil está repleta de mártires e testemunhas do reino que, com seu sangue, testemunharam o caminho da fraternidade. Ao lado destes temos ainda o martírio do dia-a-dia de muitos, que sacrificam sua juventude para cuidar de pais idosos, que abrem mão de carreiras lucrativas para se dedicar ao serviço dos empobrecidos. São estes que contribuem com a graça divina na santificação de nosso mundo cruel.

Por isso é que Deus ama os que são vitimados, não porque goste de vingança e sangue, mas porque eles são os seus melhores profetas e profetizas, seus porta-vozes. Deus se identifica com eles, associando-se à sua devoção, pois ao venerarem seus mártires, surge uma oportunidade de se arrependerem de suas faltas e alcançarem o perdão, que os liberta do medo e da covardia.

Deus ama duplamente o justo sacrificado, primeiro por ser justo e testemunhar a justiça, depois, porque seu sangue leva os outros a justiça.

O justo que dá sua vida pelos outros é chamado servo por servir-se de anti poder. Aos que desejam postos ambiciosos e ter os primeiros lugares no reino, Jesus aponta seu próprio exemplo: quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja escravo de todos. O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos (cfMc 10,45).

 4- Ligando a Palavra com a ação litúrgica

A primeira leitura ascende uma luz sobre a morte e ressurreição de Jesus, ao nos levar a crer que sua vitória sobre a morte desautorizou qualquer forma de opressão entre as pessoas.  Este acontecimento salvífico constitui-se no ponto de partida para a vitória dos humilhados e injustiçados na história.

O evangelho questiona a busca de privilégios dentro da comunidade e na sociedade. Quer eliminar as categorias de chefes/escravos, grandes/ servos. A Igreja deve ser um estandarte diante das nações, testemunhando uma vivência de sinodalidade na fraternidade evangélica.

Quais as relações que predominam em nossa comunidade?

A segunda leitura nos apresenta Jesus plenamente solidário conosco presente nas lutas justas do povo e em sua solidaria opção pelos pobres.

Onde já podemos sentir que a solidariedade que Jesus apresenta é possível ser vivida?

Ser solidário como Jesus, de que forma?

A Igreja celebra o mês missionário há mais de oito décadas, com o objetivo de despertar vocações e mobilizar os católicos em torno da campanha missionária. Faz-se hoje uma coleta em todas as celebrações para as Pontifícias Obras Missionárias e a Infância e adolescência missionárias.

Oportuna ocasião para este texto de Dom Hélder Câmara.

“Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então, Missão é partir até os confins do mundo”.

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