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28/05/2022 Antônio Carlos Santini Edição 28/05/2022 – Eu saí do Pai... (Jo 16,23b-28)

PALAVRA DE VIDA

28/05/2022 – Eu saí do Pai... (Jo 16,23b-28)

            Quando nascemos, nós saímos de nossa mãe. É uma experiência desagradável, dolorosa: deixamos o tranquilo mar interior do útero materno e somos arremessados a um ambiente estranho, que nos recebe com o ar frio, o choque dos sons, o choque da luz e uma dose de ansiedade diante da nova condição.

            O seio da Trindade também era um espaço de amor e segurança em sua eternidade. Pois o Verbo - o Filho, a segunda Pessoa da Trindade divina - aceita essa espécie de “ruptura” para se encarnar e nascer de Mulher em dado momento de nossa história. A encarnação do Verbo inclui uma “saída” do Pai. Inclui assumir a natureza humana com suas limitações e, por um tempo, abrir mão da glória, do poder e da alegria antes experimentados.

            É exatamente isto que os teólogos chamam de “kênosis”, quando o Filho de Deus se despoja, se “despe”, se “reduz” à condição de Filho do homem. O Apóstolo Paulo fez este retrato em uma página admirável: “Existindo em forma divina, ele não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. E encontrado em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de Cruz!” (Fl 2,6-8)

            A “saída do Pai” e a consequente “entrada na carne” dos mortais tem o objetivo de tornar o Filho “passível”. Antes, Deus impassível, agora ele já pode sofrer. E ele confirmará: “Foi para isso que eu vim”. Sem um Deus passível, não haveria Paixão. Mesmo antes do Calvário, o Filho passível se comove com as dores humanas, devolve o filho morto à viúva de Naim, chora – com lágrimas humanas – a morte do amigo Lázaro (cf. Jo 11,35).

            O autor da Carta aos Hebreus – autêntico sermão sobre Cristo Sacerdote – chama nossa atenção para esta “passibilidade” de Jesus Cristo: “De fato, não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, sem todavia pecar”. (Hb 4,14-15).

            De que adiantaria o Filho “sair do Pai” se não se colocasse ao nível de nossas fraquezas? Se seu coração não ficasse apertado diante de nossas dores? Diferente dos deuses do Olimpo, impassíveis e indiferentes, Deus veio sofrer conosco. É um dos nossos... e nós somos dele...

Orai sem cessar: “Ele carregava os nossos sofrimentos...” (Is 53,4)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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