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11/02/2021 Antônio Carlos Santini Edição 11/02/2021 – A mulher não era judia... (Mc 7,24-30)

PALAVRA DE VIDA

11/02/2021 – A mulher não era judia... (Mc 7,24-30)

            Para um judeu do tempo de Jesus, os estrangeiros mereciam o nome de “cães”. O costume de comer carne de porco e o fato de não adotarem a circuncisão faziam dos não judeus uma gente execrável.

            Exemplo desta aversão transparece em dois versículos do Eclesiástico: “Há duas nações que minha alma detesta e uma terceira que nem sequer é nação: os habitantes da montanha de Seir, os filisteus, e o povo estúpido que habita em Siquém”. (Eclo 50,25-26) Ora, o território dos antigos filisteus incluía, no litoral do Mediterrâneo, as cidades de Tiro e Sidônia.

            É desta região “maldita” que sai a mulher que o Evangelho de Marcos chama de “siro-fenícia”. Sua aproximação de Jesus, o mestre judeu, já famoso pelas curas e milagres, parece de início pô-lo em prova: também os estrangeiros merecem atenção? Ou seria apenas uma reação do redator judeu, ele mesmo ainda surpreso com a impensável ampliação dos horizontes da salvação?

            Afinal, o evangelista Marcos era exatamente o secretário de Pedro/Kefas, o mesmo apóstolo que precisou passar por uma revisão de conceitos em relação aos não judeus, como se lê em Atos 10,10, onde a visão da toalha com cobras e lagartos foi acompanhada da ordem divina: “Não chames de impuro o que Deus purificou”.

            Cães... répteis... a mulher estrangeira... Termos pejorativos. Mas nada será obstáculo para que o pão dos filhos – a mensagem de salvação revelada a Israel, povo escolhido – venha a cair debaixo da mesa, ainda que na forma de simples migalhas, para os “cachorrinhos” [no texto grego, “kynariois”, ou seja, filhotes]. O pão não era só para os “filhos”, mas também para os “filhotes”.

            Jean Valette comenta: “Tal como o centurião de Cafarnaum, esse outro pagão que acreditara que não há fronteiras para o poder de Deus, a mulher siro-fenícia acredita que não limites para sua bondade. E ela acaba por descobrir aquilo que Paulo empenhará todos os recursos para demonstrar: é que não existem barreiras raciais, históricas, religiosas, doutrinárias ou legais para o amor divino, que isto não é possível sob pena de Deus não ser Deus”.

            Deus é amor (1Jo 4,16b). O amor não tem fronteiras. Ninguém está excluído da irradiação desse amor que jorra em torrentes do coração aberto pela lança do centurião, na rocha do Calvário. Os filhotes terão o seu pão...

Orai sem cessar: “A uma nação que não invocava o meu nome, eu respondi: ‘Aqui estou eu!’” (Is 65,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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